Filmografia

33 Comentários »

  1. diogoestevam said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
    CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
    DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

    Disciplina: História Contemporânea (FCH352)
    Professor: Ricardo Figueiredo de Castro
    Aluno: Diogo Barreiros Estevam – DRE: 107361686
    Semestre: 2008.02 – Turno: noturno
    E-mail: diogobestevam@hotmail.com
    Blog do curso: https://fch352.wordpress.com

    Resenha filmográfica:
    Tempos Modernos

    Tempos Modernos, lançado no ano de 1936, é o nono filme de longa metragem do cineasta britânico Charles Chaplin. Se Trata do primeiro filme de Chaplin a contar com efeitos sonoros, embora seja para os padrões atuais, um filme basicamente mudo. Chaplin, neste filme, discorre sobre a sociedade industrial, o fordismo e o trabalho alienado, amparado pela obra do sociólogo alemão Karl Marx. E para isso, retratou o ambiente fabril, visto que, o mesmo nos traz muitas informações sobre os elementos constitutivos do modo de produção capitalista e da sociedade, especialmente, norte-americana da época. Contudo, foi o processo de alienação do trabalho o que mais chamou minha atenção no filme − por exemplo: a cena da máquina engolindo o Carlitos −, portanto será esse o objetivo dessa resenha.
    É no desenvolvimento do modo de produção capitalista e de sua específica forma de produção material (mercadoria) que Marx desenvolve o conceito da alienação. Sendo mercadoria algo que possui ao mesmo tempo valor de uso (finalidade do produto) e de troca (o preço, medido pela divisão da força social média pelo tempo de trabalho médio social necessário). Para Marx, a troca de mercadorias é igual à troca de trabalho, sendo o não reconhecimento dessa relação de igualdade pelo trabalhador o caracterizador do “fetiche da mercadoria”.
    Segundo o pensamento Marxiano, a alienação decorre do processo pelo qual o trabalhador, expropriado dos seus meios de trabalho – que se encontram nas mãos de um grupo dominante: a burguesia − se distância do produto a que sua força de trabalho opera. Isso acarreta duas conseqüências:
    Primeiro, sendo nas sociedades capitalistas a força de trabalho também mercadoria, o trabalhador se torna obrigado a vender sua mão-de-obra, devido não possuir os instrumentos de produção. Segundo, há uma especialização do seu trabalho (característica da divisão capitalista do trabalho), visto que, o mesmo, só possui conhecimento técnico e restrito para a realização de apenas uma etapa, particularizada, do produto final. O homem, na condição de sujeito alienado no seu processo de trabalho, por exemplo, no espaço da fábrica, não consegue se reconhecer enquanto fabricante de objetos, ou melhor, enquanto produtor de trabalho social. Assim, no modelo de produção capitalista, encontramos uma priorização, por parte de determinado grupo (os burgueses), da técnica em detrimento da consciência e do reconhecimento daquilo que se faz pelo outro grupo, os trabalhadores (em especial, os proletários). Caracterizando, ambas, a exploração.
    Marx ainda afirma que essa alienação do trabalhador resulta, não somente, que seu trabalho assuma uma existência externa, ou seja, se transforme em objeto, mas que existe independente e se torne um poder autônomo em oposição ao próprio
    Dessa maneira, o homem não se reconhece em suas obras, se torna um alienado, um estranho a si mesmo. O trabalhador não mais se realiza através do seu trabalho (o que deveria ocorrer), ao contrário, para ele o trabalho passa a ser um estorvo para conseguir um “ganha-pão”. Para Marx, é o trabalho que oferece humanidade ao homem. É através do seu trabalho que o homem se realiza e se reconhece como tal, diferente do animal que reproduz. Através da importância do trabalho para a consciência do homem, podemos demonstrar o como à ausência desse reconhecimento, via alienação, representava uma situação que o sociólogo condenava na sociedade capitalista e, por conseguinte, almejava uma sociedade melhor (socialista e depois comunista), que superasse as deficiências da sociedade que estava sucedendo. Implica dizer, uma sociedade que não mais alienasse o homem − quando o sujeito-produtor (trabalhador) volta a reconhecer o valor do que produziu, ele já não está mais alienado, visto que estaria negando a própria negação (alienação): dialética −, uma sociedade sem classes. Mesmo que para isso necessitasse o recurso da violência na Revolução.
    Assim sendo, o filme de Charles Chaplin, brilhantemente, demonstrou às péssimas condições de trabalho — por exemplo, as árduas horas de trabalho e o desempenhar repetitivo do apertar parafusos e puxar de alavancas até esses gestos se tornarem “mecânicos” nos trabalhadores — decorrente da maior especialização da linha de produção fordista. Por isso, a visão marxiana nega por completo a divisão do trabalho na sociedade capitalista, devido à mesma ser a geradora da alienação do indivíduo. Em outras palavras, ao seu estado mais brutal de negação de si mesmo e de sua atividade geradora de riquezas. Com tal divisão de tarefas não é mais permitido ao trabalhador saber o que afinal estava produzindo: como o trabalhador não participa das demais etapas do processo produtivo ele perde a noção total de produto. Para explicitar esse fenômeno, Chaplin não nos deixa saber que produto a indústria no filme está produzindo. Somente sabemos que é uma fábrica de componentes elétricos (Electro Steel Corp.). Tempos Modernos é um ótimo filme, mesmo passado 72 anos de seu lançamento, as mesmas críticas realizadas por Chaplin à sociedade do entreguerras, poderiam ser feitas à sociedade do século XXI. Queiram ou não, Marx entendeu o capitalismo como poucos (ou ninguém) o entendeu.

    Bibliografia (de apoio):
    BARBOSA, Maria Ligia; OLIVEIRA, Márcia Gardênia & QUINTANEIRO, Tânia. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: UFMG, 1999.

    Filmografia:
    CHAPLIN, Charles. Tempos Modernos (Modern Times). Preto & Branco. Legendado. Duração: 87 min. Warner, 1936.

  2. zelesco said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ
    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS – IFCS
    DISCIPLINA: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
    PROFESSOR: RICARDO FIGUEIREDO DE CASTRO
    ALUNO: LUCAS ZELESCO DRE: 107.361.262

    FICHA DE ANÁLISE FÍLMICA N° 1
    TEMPOS MODERNOS

    Rio de Janeiro
    2008/2

    I. IDENTIFICAÇÃO
    Título: Tempos Modernos (Modern Times no original).
    Nacionalidade: Estados Unidos.
    Nome do diretor: Charles Chaplin.
    Nome do roteirista: Charles Chaplin.
    Atores principais: Charles Chaplin, Paulette Goddard e Al Ernest Garcia.
    Ano de produção: 1936.
    Duração em minutos: 87 minutos.

    II. ANÁLISE DE CONTEÚDO

    – Síntese do enredo:
    O filme Tempos Modernos mostra a vida de um operário que é empregado em uma linha de montagem, sofrendo pela sobrecarga de trabalho repetitivo e extenuante. Após um tempo começa a apresentar seqüelas decorrentes dos abusos, e acaba sofrendo um colapso nervoso. É internado em um hospital do qual sai algum tempo depois, porém desempregado.
    Enquanto anda pela rua, acidentalmente é confundido com um líder comunista e vai preso, mais tarde participando de uma fuga de detentos, depois da qual por um ato de heroísmo é aclamado e libertado com uma carta de recomendação. Após isso procura emprego, no entanto a situação de um ex-detento é difícil nesse sentido e ele passa por muitas dificuldades.
    Caminhando sem rumo encontra com uma garota que está fugindo da polícia após roubar um pão, e assume a culpa, admitindo que é o ladrão. No entanto, um transeunte revela o engano e ele é liberado. Tentando ser novamente preso ele come diversos alimentos em uma cafeteria e sai sem pagar, porém enquanto ele e Gamine estão no vagão, ele falha e os dois fogem.
    Ainda buscando uma vida melhor, ele consegue um emprego como guarda noturno em uma loja de departamento, e quando não há mais ninguém ele e a garota aproveitam-se dos artigos da loja. No entanto, no dia seguinte acorda em uma pilha de roupas, e é preso mais uma vez.
    Ao ser libertado a garota leva-o para sua casa. Após algumas peripécias ambos são empregados em um café, ele como garçom e ela como dançarina. No entanto, suas habilidades não são o suficiente, e eles passam por mais problemas com a polícia, escapando mais uma vez e continuando juntos em direção a um futuro difícil mas promissor.

    – Localização temporal:
    Primeiras décadas do século XX.

    – Localização espacial:
    Estados Unidos.

    III. ANÁLISE CRÍTICA

    O filme se inicia dentro de uma fábrica, dando um grande destaque a elementos modernos, como máquinas e a própria fábrica, ao mesmo tempo fazendo um contraste muito interessante com os operários que nela trabalham, de certo modo reiterando o abismo que havia entre as estruturas econômicas e as sociais. Nesse aspecto, é interessante ressaltar um dos pontos que o filme procurou focar, que é o modo como a sociedade capitalista do início do século XX se relacionava com o trabalho e com o trabalhador enquanto pessoa.
    Podemos perceber que o filme apresenta essa noção, posto que o protagonista por diversas vezes é vítima de maus-tratos e injustiças de um modo geral e, no entanto, poucas são as pessoas que compreendem, dentro do rol de personagens do filme, o drama de um trabalhador que para ganhar a vida precisa se submeter a tais condições. Charles Chaplin neste filme dirige uma crítica contundente a essa conformação social, ao mesmo tempo que busca resgatar valores que a vida urbano-industrial não preconiza, tais como a honra, a bondade e a liberdade.
    Chaplin, acima de tudo, buscou com este filme mostrar que, em uma sociedade, não importa qual seu nível de tecnologia ou desenvolvimento, mas são os homens e suas atitudes de uns para com os outros que faz o diferencial, sendo a verdadeira humanidade, e não apenas aspectos econômicos ou políticos, o que torna um povo, efetivamente, avançado.

    IV. REFERÊNCIAS

    – Filmografia: CHAPLIN, Charles. Tempos Modernos (Modern Times). Preto & Branco. Legendado. Duração: 87 min. Warner, 1936.

    – Sites:
    http://en.wikipedia.org/wiki/Modern_Times_(film), acessado em 18/09/2008.
    http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=181, acessado em 18/09/2008.
    http://www.imdb.com/title/tt0027977/, acessado em 18/09/2008.

  3. zelesco said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ
    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS – IFCS
    DISCIPLINA: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
    PROFESSOR: RICARDO FIGUEIREDO DE CASTRO
    ALUNO: LUCAS ZELESCO DRE: 107.361.262

    FICHA DE ANÁLISE FÍLMICA N° 2

    NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS

    Rio de Janeiro
    2008/2
    I. IDENTIFICAÇÃO
    Título: Nós que aqui estamos por vós esperamos.
    Nacionalidade: Brasil.
    Nome do diretor: Marcelo Masagão.
    Nome do roteirista: Marcelo Masagão.
    Gênero: documentário.
    Ano de produção: 1998.
    Duração em minutos: 73 minutos.
    Baseado no livro: A Era dos Extremos, de Eric Hobsbawm.

    II. ANÁLISE DE CONTEÚDO

    – Síntese do enredo:
    O filme Nós que aqui estamos por vós esperamos é um documentário que lança, através de imagens e trechos de outros filmes, uma leitura particular sobre A era dos extremos de Eric Hobsbawm, ou seja, é um filme que trata, intrinsecamente, do século XX (como intitula-se, “memória do breve século XX).
    Marcelo Masagão utiliza-se de um material vasto, como imagens de arquivos, trechos de outros documentários e partes de obras clássicas do cinema, para narrar em retrospecto as principais mudanças que marcaram o século XX, com a preocupação de retratar tanto personagens históricos quanto homens comuns que, embora não tenham importância dentro da historiografia acadêmica tradicional, foram também parte integrante e constituinte dos eventos que ocorreram no último século.
    O filme embora à primeira vista possa parecer aleatório, segue uma linearidade que diferentemente do que poderíamos esperar não é a do século XX, mas a de uma vida humana, pois, além da grande questão do valor da vida humana que é mostrado, o próprio filme deixa uma mensagem nesse sentido em seu título e em seu final: “nós que aqui estamos por vós esperamos” não é, está claro, uma mensagem do século XX, como se tal entidade existisse e pudesse deixar este tipo de mensagem; é antes uma recordação que todos aqueles que construíram o último século deixam para os que constroem o século atual.

    – Localização temporal:
    Século XX.

    – Localização espacial:
    O filme abrange o globo como um todo, no entanto concentrando-se mais na Europa e nos EUA.

    III. ANÁLISE CRÍTICA

    Qual a visão, o discurso que podemos adotar a respeito do século XX, chamado por Eric Hobsbawm de “o breve”? Com que olhos iremos construir a nossa imagem do mesmo? Certamente isso é uma tarefa muito própria e particular, o que, porém, não impossibilita que promovamos um diálogo entre as visões e interpretações de outras pessoas, em um exercício que, por seu valor crítico e sintético, vai sem dúvida contribuir para a nossa própria construção do século mais fin-de-siècle já registrado na historiografia.
    Podemos definir, ao assistirmos Nós que aqui estamos por vós esperamos no mínimo dois grandes mundos, que ocorrem simultaneamente no mesmo momento histórico, sendo a expressão de fatos muito distintos e, no entanto, extremamente inter-relacionados, que seriam o micro-mundo, particular, pessoal, a visão individual do mundo que cada indivíduo carrega, e que mescla-se com sua própria vida, e o macro-mundo, o mundo da organização política e econômica a nível de Estado, e das grandes guerras, das grandes crises, dos grandes avanços, que de uma ou outra maneira influenciam a vida de muitos.
    Esses dois mundos, conforme dito acima, são extremamente diferentes, porém muito ligados entre si. O que para alguns pode parecer um absurdo ou um “paradoxo” (o que não existe no campo da História; tudo sempre tem uma causa, uma razão de ser, ainda que obscura ou não-compreendida), Hobsbswm explica: “falamos como homens e mulheres de determinado tempo e lugar, envolvidos de diversas maneiras em sua história como atores em seus dramas (…), como observadores de nossa época” .
    O que ocorre é um duplo, ou melhor fosse múltiplo, feedback, onde os atores, indivíduos humanos ou não, através de suas ações moldam a comunidade em que vivem, escrevendo e criando assim sua própria história, que por sua vez influencia na própria sociedade como um todo, o que termina por afetar a vida de cada indivíduo dela constituinte, fechando assim um ciclo contínuo e ininterrupto.
    Neste ponto insere-se a frase de McLuhan, mostrada no filme: “Os homens criam as ferramentas, as ferramentas recriam os homens”, o que aponta um processo de fabricação da desigualdade, conservando-se, no entanto, a ressalva de uma metáfora, as ferramentas como os processos econômicos e sociais que ocorrem dentro de um determinado corpo social, capazes de, como dito acima, modificar e modificar-se, os humanos e através destes.
    O século XX foi um século sombrio não por falta de avanços e expansão dos conhecimentos tecnológicos, o que ocorreu em larga escala, sem dúvida. Foi um século sombrio por que a sociedade foi aos poucos se esquecendo de seu caráter humano, de seu aspecto social, convertendo-se cada vez mais para um sistema onde o importante era a tecnologia, o conhecimento científico, a competitividade, ignorando-se assim, por completo, a existência do “outro”, e mesmo do “eu” como outra entidade que não fosse um mero produtor de riqueza.
    Foi também, sem dúvida, um século irônico. Um século onde, em certos momentos, as ordens tradicionais e mesmo as ordens naturais das sociedades foram completamente marginalizadas para dar lugar a pensamentos esdrúxulos, frutos em geral de mentes deturpadas que, por alguma razão, conseguiram impor-se a uma nação como “líder”. Foi o que ocorreu na China, durante a Revolução Cultural, quando ser declarado “branco e experto” (uma pessoa educada, com conhecimentos de certo nível) era quase uma sentença de morte ou um reclusão nos campos de trabalho forçado.
    Marcelo Masagão, mesmo expressando claramente o caráter fictício de seus personagens, ainda nos abre algumas possibilidades de histórias pessoais, perfeitamente plausíveis de ocorrer, como por exemplo, o por cinco anos funcionário modelo, que discorda do Partido e é deportado para a Sibéria.
    O documentário nos mostra que o breve século XX foi não só breve, no que concerne à sua efetiva abrangência temporal (como disse Hobsbawm, vai de 1914 a 1991), mas também denso, um século onde mesclaram-se investimentos em tecnologia de ponta, para melhorar a vida das pessoas, e na manutenção da pobreza em nome desse mesmo desenvolvimento, onde pacifistas foram contemporâneos a alguns dos maiores assassinos da história.
    Onde a velocidade vertiginosa das transformações políticas, sociais e econômicas ocorre de tal maneira que acaba por transformar violentamente a própria sociedade e seus membros, que não conseguem acompanhá-las, culminando em um eloqüente personagem, que sintetiza a expropriação do humano em nosso século de negações: o engenheiro que virou maçã.

    IV. REFERÊNCIAS

    – Filmografia: MASAGÃO, Marcelo. Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos. Preto e Branco, Cores. Texto original em português. Duração: 73 min. Agência Observatório, 1998.

    – Livro:
    HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

    – Sites:
    http://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%B3s_que_Aqui_Estamos_por_V%C3%B3s_Esperamos, acessado em 21/09/2008.
    http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=199, acessado em 21/09/2008.
    http://www.imdb.com/title/tt0206805/, acessado em 21/09/2008.

  4. flavinharv said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
    Flavia Ribeiro Veras – 105030784
    Curso: História Contemporânea
    2º semestre de 2008/ Noturno
    Resenha do Filme “Tempos Modernos”

    “Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.”

    Bertolt Brecht, “Privatizado”.

    Os “incluídos” de Ford

    A película “Tempos Modernos”, ou Modern Times, em seu título original foi produzida por Charles Chaplin e seu ano de lançamento nos Estados Unidos data de 1936. É uma comédia dotada de crítica social bem embasada e extremamente provocativa tendo em vista os anos trinta. No mundo onde o ser humano era cada vez mais absorvido pela mecânica e pela produção em massa, Chaplin mostra um operário que sofre com toda a perturbação do mundo moderno para assegurar sua sobrevivência frente à massa de desempregados.
    Com um forte discurso de classe, Chaplin procura dar dimensão psicológica à percepção da modernidade para a classe subalterna. A personagem inicia o filme com um operário cuja função é apertar parafusos na linha de montagem. Como criação do fordismo, esta produz uma nova divisão do trabalho, onde o trabalhador especializa-se em uma dada atividade, o que provocaria o aumento da produtividade e maior controle sobre o trabalho e o trabalhador.
    Essa perspectiva do controle e da coisificação do operário é exercida dentro e fora das fábricas, enquanto a tecnologia teria com função subordinar o trabalhador. Podemos perceber este discurso na expectativa do empresário em adquirir uma máquina que suprimisse a necessidade da hora de almoço e em momentos em que a classe subalterna é obrigada a subordinar-se à este modelo de produção e trabalho, visto que seria a única maneira se assegurar sua sobrevivência em uma sociedade com muitos desempregados.
    A solidariedade na classe dominante e o papel da polícia assegurando o direito à propriedade privada e o controle dos trabalhadores é tema corrente. Os anos trinta foram marcados por movimentos trabalhistas, o comunismo ainda se mostrava como alternativa viva dos operários contra a exploração, inúmeras greves explodiam, partidos comunistas ganhavam espaço e a polícia, como parte corpo repressivo do Estado, esboço da classe dominante, agia violentamente contra esses movimentos. No filme em questão estes movimentos culminaram na prisão do protagonista e a morte de um operário desempregado com três filhas, cuja mais velha se apaixonará por Chaplin ao ser presa roubando um pão.
    Em diálogo com o modelo fordista de produção, onde mesmo fora do ambiente de trabalho o empregado, ou aquele que deveria exercer esta função, precisa ser controlado, o filme coloca a coerção do Estado no espaço de ócio. Quando Chaplin e sua companheira vislumbram ascensão social trabalhando como artistas o Estado encontra uma forma de persegui-los, tirando deles a possibilidade de não se subordinar ao regime fabril.
    O caos da modernidade provocado pelo mecanicismo da produção, a alienação do trabalho e da mercadoria, aliado à incerteza sobre o futuro e a rapidez e a fluidez (BERMAN, 2007, p. 24-49), das relações provoca a reação de movimentos sociais, como já foi dito, mas o sofrimento individual também é retratado em “Tempos Modernos”, Chaplin clinicamente enlouquece de tanto apertar parafusos. Essa contradição feita pela produção em massa e a vida miserável de alguns setores sociais produz nestes sonhos bucólicos, onde a rejeição da vida na cidade coloca como parâmetro ideal de vida o campo e a simplicidade.
    O manicômio também funciona como forma de exclusão da sociedade àqueles que reagem ou simplesmente não se adaptam ao modo de produção. Tendo em vista a obra de Foucault “A história da loucura” , é possível fazer uma correlação entre este livro e o filme, uma fez que o filósofo nos coloca que a loucura é socialmente construída. Em nem nenhum momento foi questionado o motivo da insanidade de Chaplin, ele ficou louco porque em dado momento não se adequava à vida moderna, pelo menos como operário.
    Este filme é muito interessante, pois mesmo tendo como tema os tempos pós-crise de 1929 e a modernidade com a sua fascinação pela máquina, consegue abarcar temas muito presentes no cotidiano do mundo do trabalho do século XXI. Sendo possível, desta forma, estabelecer diálogo com o debate sobre a existência de uma pós-modernidade, pois ainda que mecânica tenha sido de certa forma superada pela tecnologia digital, a exploração do trabalho e as condições materiais dos trabalhadores em diálogo com a questão da capacidade de consumo é ponto sempre em voga no sistema capitalista. Certamente, esta é uma das causas que faz de “Tempos Modernos”, um filme atual, sempre impactante e constantemente trabalhado nas escolas e universidades.

    Bibliografia
    BERMAN, Marshall. “Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade”. São Paulo, Companhia das Letras, 2007.
    GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. “”Freud e o inconsciente”. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 1987.
    GRAMISCI, Antonio. “Americanismo e fordismo” in Obras escolhidas. Tradução de Manuel Cruz, São Paulo: Martins Fontes, 1° edição, 1978
    GRAMSCI, Antonio. Cadernos de Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. Vol. 1.
    MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. “A ideologia alemã, 1ºcapitulo: seguido das Teses sobre Feuerbach”. São Paulo. Centauro,2005.

  5. magnoklein said,

    Resenha de
    Tempos Modernos. Dirigido e produzido por Charles Chaplin. 1936.

    Magno Klein Silva DRE 106015973
    História Contemporânea – Noite.
    Professor Ricardo Castro
    Rio, 22/09/08.

    Último filme mudo de Chaplin, Tempos Modernos é uma de suas maiores obras-primas. Esta comédia, que numa análise bem superficial, pode ser dita leve e despretensiosa, ganha, já numa primeira leitura crítica, sua forma completa incluindo todo seu estudo político e sociológico de um período e sobre o processo de desenvolvimento do capitalismo.

    Muito importante entender o momento em que o filme foi gravado, no ápice do momento depressivo causado pela Grande Depressão de 29. Um momento de forte desemprego e desespero econômico que na Europa ajudará a levar milhares para a extrema-direita. Charles Chaplin sabe disso e busca de início fazer um filme voltado para os mais simples. Onde aqueles que sofriam pudessem se esquecer da dor e se distrair. Afinal, cinema é entretenimento por natureza!

    Só que também fica nítido em sua obra o caráter político que ela carrega. Não é à toa que o filme será proibido na Alemanha Nazista por suposta linguagem socialista. Certamente ela não existe, mas seu filme possui uma mensagem que passa longe do ideal de ordem e produtividade.

    Essas características, que seriam também encampadas pelo fascismo, são alguns dos muitos elementos constitutivos do capitalismo industrial que o diretor magistralmente saberá parodiar muito bem. Lembrando o estudo feito por Marshall Berman sobre a relação entre a intelectualidade e a modernidade no século XX, lembramos que este autor defende a tese de que esta modernidade era vista de modo polarizado e quase “infantil”: ou se idolatrava cegamente ou se condenava acriticamente.

    Defendo que o diretor Charles Chaplin possui uma abordagem sobre o tema de um modo diferente do que qualquer um dos pólos. Sua leitura da modernidade de certo que não é ufanista. A década de 30 dificultou e muito aos intelectuais em geral defender um projeto de vida moderno já que se tinha a nítida impressão de que ele tinha trazido o caos e o empobrecimento. E é deste ponto de vista que Chaplin mostra uma sociedade torta, rota, decadente e talvez poderíamos dizer também instável.

    Contudo, pela vantagem de utilizar a mais moderna das linguagens até então inventada, o Cinema, Chaplin demonstra que apesar da dor e do sofrimento é também possível sorrir; que da mais torpe personagem, pode vir o mais nobre gesto.

    É muito interessante a sua leitura do contexto capitalista em pleno ápice do período fordista. As linhas de montagem, a produção em larga escala, o trabalho repetitivo são geridos pelos grupos dos proletariados e dos burgueses.

    De um lado temos os trabalhadores, mal remunerados, desvalorizados, que a todo momento urgem por melhorias. Suas vidas são em preto e branco como todo o filme. São perseguidos e controlados e conhecem muito pouco a noção de direitos humanos.

    Do outro lado, o diretor apresenta a burguesia. Suas características são marcadas pela vilania e usurpação. Não trabalhariam e por isso poderiam gozar do privilégio da diversão.

    Da maneira como retratado no filme, o período era fortemente instável. E isso se mostra mais claro na capacidade de insurreição da classe operária e pelo forte poder de repressão estatal. Lembremos que no filme, o personagem principal ao tentar devolver uma bandeira caída consegue criar uma passeata de um movimento grevista, fato pelo qual é aliás preso.

    O filme é um dos maiores expoentes da sétima arte e pode ser visto como uma das mais importantes abordagens historiográficas da década de 30, da realidade dos pobres e do momento do capitalismo que presenciava.

    Bibliografia

    BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Introdução: “Modernidade – ontem, hoje, amanhã”, p. 24-49.

    FALCON, Francisco José Calazans. O capitalismo unifica o mundo. In: REIS FILHO, Daniel et alli. O século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

  6. Bandeira said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
    DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
    HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA – NOITE
    Prof. Ricardo Castro
    Aluno: Felipe Vasconcellos Bandeira – 106029728

    RESENHA DO FILME “TEMPOS MODERNOS”, DE CHARLES CHAPLIN

    CHAPLIN, Charles. Tempos Modernos. Título original: Modern Times. Preto & Branco. Legendado. Duração: 87 min. Warner, 1936.

    Tempos Modernos é um filme do cineasta britânico Charles Chaplin, lançado em 1936, em que o seu famoso personagem “O Vagabundo” tenta sobreviver em meio ao mundo moderno e industrializado. Este filme mostra, com a sensibilidade característica de Chaplin, a transformação que a sociedade sofre nas suas bases mais importantes: os seus valores e pensamentos.
    A produção industrial norte-americana reduziu-se pela metade nos três anos após a quebra da bolsa de Nova York. A falência atingiu milhares de estabelecimentos e bancos. As mercadorias que não tinham compradores eram literalmente destruídas, ao mesmo tempo em que milhões de pessoas passavam fome. Em 1933 o país contava com 17 milhões de desempregados. Diante de tal realidade o governo presidido por H. Hoover, a quem os trabalhadores apelidaram de “presidente da fome”, procurou auxiliar as grandes empresas capitalistas, representadas por industriais e banqueiros, nada fazendo, contudo, para reduzir o grau de miséria das camadas populares.
    Nos primeiros anos da década de 30, a crise se refletia por todo mundo capitalista, contribuindo para o fortalecimento do nazifascismo europeu. Nos Estados Unidos em 1932 era eleito pelo Partido Democrático o presidente Franklin Delano Roosevelt, que anunciou um “novo curso” na administração do país, o chamado New Deal. A prioridade do plano era recuperar a economia abalada pela crise combatendo seu principal problema social: o desemprego. Nesse sentido o Congresso norte-americano aprovou resoluções para recuperação da indústria nacional e da economia rural. Através de uma maior intervenção sobre a economia, já que a crise era do modelo econômico liberal, o governo procurou estabelecer certo controle sobre a produção, com mecanismos como os “códigos de concorrência honrada”, que estabeleciam quantidade a ser produzida, preço dos produtos e salários. A intenção era também evitar a manutenção de grandes excedentes agrícolas e industriais. Para combater o desemprego, foi reduzida a semana de trabalho e realizadas inúmeras obras públicas, que absorviam a mão-de-obra ociosa, recuperando paulatinamente os níveis de produção e consumo anteriores à crise. O movimento operário crescia consideravelmente e em seis anos, de 1934 a 1940, estiveram em greve mais de oito milhões de trabalhadores. Pressionado pela mobilização operária, o Congresso aprovou uma lei que reconhecia o direito de associação dos trabalhadores e de celebração de contratos coletivos de trabalho com os empresários.
    Trata-se do último filme mudo de Chaplin, que focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30, imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão atingiu toda sociedade norte-americana, levando grande parte da população ao desemprego e à fome. Chaplin, em 1931, fez a seguinte declaração: “O desemprego é uma questão vital, O maquinismo deve ajudar o homem, não deve provocar tragédias nem suprimir empregos”. Em Tempos Modernos colocou suas observações e ansiedades numa comédia.
    A figura central do filme é Carlitos, o personagem clássico de Chaplin, que ao conseguir emprego numa grande indústria, transforma-se em líder grevista conhecendo uma jovem, por quem se apaixona. O filme focaliza a vida do na sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. É uma crítica à “modernidade” e ao capitalismo representado pelo modelo de industrialização, onde o operário é engolido pelo poder do capital e perseguido por suas idéias “subversivas”.
    Em sua Segunda parte o filme trata das desigualdades entre a vida dos pobres e das camadas mais abastadas, sem representar, contudo, diferenças nas perspectivas de vida de cada grupo. Mostra ainda que a mesma sociedade capitalista que explora o proletariado, alimenta todo conforto e diversão para burguesia. Cenas como a que Carlitos e a menina órfã conversam no jardim de uma casa, ou aquela em que Carlitos e sua namorada encontram-se numa loja de departamento, ilustram bem essas questões.
    Se inicialmente o lançamento do filme chegou a dar prejuízo, mais tarde tornou-se um clássico na história do cinema. Chegou a ser proibido na Alemanha de Hilter e na Itália de Mussolini por ser considerado “socialista”. Aliás, nesse aspecto Chaplin foi boicotado também em seu próprio país na época do “macartismo”.

  7. peixotopvs said,

    Resenha do filme : “ Tempos Modernos” (Modern Times) de Charles Chaplin

    Publicada no blog http://www.historiacontemporanea.wordpress.com

    O filme “Tempos Modernos”, como o próprio nome já sugere, traz consigo toda uma discussão a respeito das mudanças provocadas pela Modernidade, acompanhada de uma dose de comédia ao estilo de Chaplin.
    Um paralelo pode ser traçado entre a idéia principal do filme e a do texto de Berman, discutido em sala de aula: ambos buscam chamar a atenção para o fato de que a modernidade pode ser delimitada pelas novas experimentações do homem que, por sua vez, acabariam por criar um turbilhão de permanente desintegração e de mudanças (BERMAN: 1986, pág.41).
    Chaplin busca destacar em seu filme, de uma maneira direta e indireta, todos os pontos mais importantes que essas mudanças trazidas pela industrialização na época causaram à sociedade. Dentre esses pontos, podemos chamar a atenção para alguns dos principais:
    * a mecanização ao extremo da produção, que passa a influenciar as relações sociais (relações mecanizadas entre os trabalhadores para a produção) – representada no filme pela rotina e modos de interação entre os operários;
    * a linha de montagem da produção baseada na especialização do operário – representada no filme pelas cenas em que os operários participavam da produção do mesmo produto, no entanto, isolados em suas áreas;
    * os impactos causados à saúde e à mente devido ao trabalho dentro das indústrias – representado no filme pelos “tiques” nervosos que o personagem principal possuía e que eram exatamente os mesmos movimentos que ele fazia na linha de montagem;
    * as tentativas de constantes inovações e criação de novas máquinas – representadas no filme pelas novas máquinas que são testadas com os trabalhadores da indústria para certificarem-se de seu funcionamento;
    * as greves trabalhistas – representados no filme no momento em que o personagem principal é confundido como uma espécie de líder comunista de uma passeata operária;
    * o desemprego – representado no filme pelas constantes tentativas de arranjar vagas de emprego e pela gigante multidão nas portas das indústrias no dia de contratação de pessoas;
    * os embates com a polícia e o sistema de repressão – representados no filme através das inúmeras vezes em que o personagem principal é levado à prisão e ao hospício;
    * as desigualdades entre a vida dos pobres e a dos ricos – representadas no filme através do contraste da realidade de famílias pobres e famintas que roubam para se alimentar e a de famílias com casas grandes, belos jardins e carros;
    – o “stress” e a crise nervosa que beira a loucura causados pelas más condições de trabalho – representados no filme através do “surto” nervoso dentro do emprego que o personagem principal sofre causado pela “monotonia frenética” de seu trabalho.

    Tal como Falcon busca argumentar em seu texto, a questão da máquina, ao longo do filme, deve ser sempre entendida nesse contexto, enquanto uma expressão emblemática da nova ordem econômica nascente, que concentra em si todas as atenções empresariais e políticas (FALCON: 2000). No filme, Chaplin parece chamar a atenção justamente para esse fator em uma cena que se tornou um ícone da cinematografia universal – aquela em que o protagonista acaba por cair dentro de uma máquina cheia de engrenagens fazendo um percurso automático ao ser “engolido” por ela. Acreditamos que essa passagem contenha um simbolismo importante que expressa exatamente a questão do trabalhador, operário industrial, que é psicologicamente “devorado” ou “engolido” pelas máquinas. Outra cena, em relação a essa mesma questão da máquina é uma em que o personagem principal é obrigado a testar um novo protótipo e acaba preso à máquina sem conseguir sair, sofrendo, assim, em sua pele, as conseqüências do mal funcionamento desta.
    Igualmente importante e digna de atenção é a crítica que Chaplin estabelece em relação à transformação das noções de tempo. Este, conforme o filme ilustra desde o seu início e tal como Falcon chama a atenção em seu texto, passa cada vez mais a ser cronometrado, regulado, disciplinado e entendido como sinônimo de dinheiro. A aceleração da produção e a redução do tempo livre de descanso imperam sobre o operário que é obrigado a reorganizar o seu próprio tempo (o tempo de ir ao banheiro, de lanchar, almoçar, etc) em função do tempo da indústria. Isso permite que o filme também explore a questão da alienação do trabalhador causada pelos meios de produção, tendo em vista que a excessiva especialização de cada operário em sua área acabaria por resultar num isolamento dele para com o mundo. No filme, o personagem principal parece, em um dado momento, compreender isso, na medida em que ele passa a “brincar” e a provocar os outros operários da linha de montagem, sabendo que eles nada poderiam fazer já que estavam presos e “acorrentados” à produção de cada parte e ao tempo de montagem.
    Apesar do contexto do filme não ser mais o mesmo dos dias atuais, Chaplin foi capaz de elaborar uma crítica inteligente e bem humorada em relação a alguns mais importantes aspectos trazidos pelo capitalismo e pela industrialização. Fazendo uma ponte com os textos de Berman e Falcon, podemos chamar a atenção para, talvez, a maior de todas as contribuições do filme: mostrar a transformação dos comportamentos, do ritmo dos empregos, das relações sociais, das noções de tempo, das dificuldades dos operários, dentre outras, que em grande parte são sentidas até os dias atuais e se fazem presentes cada vez mais. O mundo contemporâneo não pode ser entendido ou pensado sem todos esses elementos em mente e embora muitos deles, nos dias atuais, assumam novas proporções, eles possuem suas origens e bases nas experiências iniciais que Chaplin traz à tona em seu filme, fazendo deste um verdadeiro clássico.

  8. peixotopvs said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    ALUNO : PEDRO VIEIRA DA SILVA PEIXOTO
    DRE : 106027190
    PROFESSOR : RICARDO CASTRO DISCIPLINA : HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

    ________________________________________

    Resenha do filme : “ Tempos Modernos” (Modern Times) de Charles Chaplin
    Publicada no blog http://www.historiacontemporanea.wordpress.com

    O filme “Tempos Modernos”, como o próprio nome já sugere, traz consigo toda uma discussão a respeito das mudanças provocadas pela Modernidade, acompanhada de uma dose de comédia ao estilo de Chaplin.
    Um paralelo pode ser traçado entre a idéia principal do filme e a do texto de Berman, discutido em sala de aula: ambos buscam chamar a atenção para o fato de que a modernidade pode ser delimitada pelas novas experimentações do homem que, por sua vez, acabariam por criar um turbilhão de permanente desintegração e de mudanças (BERMAN: 1986, pág.41).
    Chaplin busca destacar em seu filme, de uma maneira direta e indireta, todos os pontos mais importantes que essas mudanças trazidas pela industrialização na época causaram à sociedade. Dentre esses pontos, podemos chamar a atenção para alguns dos principais:
    * a mecanização ao extremo da produção, que passa a influenciar as relações sociais (relações mecanizadas entre os trabalhadores para a produção) – representada no filme pela rotina e modos de interação entre os operários;
    * a linha de montagem da produção baseada na especialização do operário – representada no filme pelas cenas em que os operários participavam da produção do mesmo produto, no entanto, isolados em suas áreas;
    * os impactos causados à saúde e à mente devido ao trabalho dentro das indústrias – representado no filme pelos “tiques” nervosos que o personagem principal possuía e que eram exatamente os mesmos movimentos que ele fazia na linha de montagem;
    * as tentativas de constantes inovações e criação de novas máquinas – representadas no filme pelas novas máquinas que são testadas com os trabalhadores da indústria para certificarem-se de seu funcionamento;
    * as greves trabalhistas – representados no filme no momento em que o personagem principal é confundido como uma espécie de líder comunista de uma passeata operária;
    * o desemprego – representado no filme pelas constantes tentativas de arranjar vagas de emprego e pela gigante multidão nas portas das indústrias no dia de contratação de pessoas;
    * os embates com a polícia e o sistema de repressão – representados no filme através das inúmeras vezes em que o personagem principal é levado à prisão e ao hospício;
    * as desigualdades entre a vida dos pobres e a dos ricos – representadas no filme através do contraste da realidade de famílias pobres e famintas que roubam para se alimentar e a de famílias com casas grandes, belos jardins e carros;
    – o “stress” e a crise nervosa que beira a loucura causados pelas más condições de trabalho – representados no filme através do “surto” nervoso dentro do emprego que o personagem principal sofre causado pela “monotonia frenética” de seu trabalho.

    Tal como Falcon busca argumentar em seu texto, a questão da máquina, ao longo do filme, deve ser sempre entendida nesse contexto, enquanto uma expressão emblemática da nova ordem econômica nascente, que concentra em si todas as atenções empresariais e políticas (FALCON: 2000). No filme, Chaplin parece chamar a atenção justamente para esse fator em uma cena que se tornou um ícone da cinematografia universal – aquela em que o protagonista acaba por cair dentro de uma máquina cheia de engrenagens fazendo um percurso automático ao ser “engolido” por ela. Acreditamos que essa passagem contenha um simbolismo importante que expressa exatamente a questão do trabalhador, operário industrial, que é psicologicamente “devorado” ou “engolido” pelas máquinas. Outra cena, em relação a essa mesma questão da máquina é uma em que o personagem principal é obrigado a testar um novo protótipo e acaba preso à máquina sem conseguir sair, sofrendo, assim, em sua pele, as conseqüências do mal funcionamento desta.
    Igualmente importante e digna de atenção é a crítica que Chaplin estabelece em relação à transformação das noções de tempo. Este, conforme o filme ilustra desde o seu início e tal como Falcon chama a atenção em seu texto, passa cada vez mais a ser cronometrado, regulado, disciplinado e entendido como sinônimo de dinheiro. A aceleração da produção e a redução do tempo livre de descanso imperam sobre o operário que é obrigado a reorganizar o seu próprio tempo (o tempo de ir ao banheiro, de lanchar, almoçar, etc) em função do tempo da indústria. Isso permite que o filme também explore a questão da alienação do trabalhador causada pelos meios de produção, tendo em vista que a excessiva especialização de cada operário em sua área acabaria por resultar num isolamento dele para com o mundo. No filme, o personagem principal parece, em um dado momento, compreender isso, na medida em que ele passa a “brincar” e a provocar os outros operários da linha de montagem, sabendo que eles nada poderiam fazer já que estavam presos e “acorrentados” à produção de cada parte e ao tempo de montagem.
    Apesar do contexto do filme não ser mais o mesmo dos dias atuais, Chaplin foi capaz de elaborar uma crítica inteligente e bem humorada em relação a alguns mais importantes aspectos trazidos pelo capitalismo e pela industrialização. Fazendo uma ponte com os textos de Berman e Falcon, podemos chamar a atenção para, talvez, a maior de todas as contribuições do filme: mostrar a transformação dos comportamentos, do ritmo dos empregos, das relações sociais, das noções de tempo, das dificuldades dos operários, dentre outras, que em grande parte são sentidas até os dias atuais e se fazem presentes cada vez mais. O mundo contemporâneo não pode ser entendido ou pensado sem todos esses elementos em mente e embora muitos deles, nos dias atuais, assumam novas proporções, eles possuem suas origens e bases nas experiências iniciais que Chaplin traz à tona em seu filme, fazendo deste um verdadeiro clássico.

  9. vitulopes said,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
    Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – IFCS
    História Contemporânea
    Nome: Vitor Lopes Moreira
    DRE: 106037064
    Professor: Ricardo Castro
    Período Letivo: Segundo semestre de 2008
    Turno: Noturno
    E-mail: vitorlopesmoreira@gmail.com

    Resenha filmográfica:
    Tempos Modernos.Charles Chaplin. 1936.

    A rotina, os problemas e as frustrações da industrialização ganham um peso maior quando visto sob a ótica de Chaplin. Tratar algo tão complexo de uma maneira ao menos cômica não significa suavizar o problema, e sim propor um debate acerca do tema por meio de outras vias, não perdendo o caráter crítico em nenhum momento. Por que não tratar do tema da industrialização e do desemprego através de humor? Trata-se de algo inimaginável? É claro que não, e a película mostra muito bem isso.
    Inimagináveis poderiam ser os sonhos do personagem Carlitos, que vão contra a ordem vigente, não do mundo em que vive, mas sim da classe social a qual pertence. “Uma história sobre a indústria, a iniciativa privada e a cruzada da humanidade em busca da felicidade”: o filme se inicia a partir desta frase, o que também de certa forma dita o estranhamento e a contradição desta mesma sociedade que Chaplin tenta (e consegue) mostrar aos telespectadores. A felicidade, os desejos, as ambições, todas estas intenções são elucidadas ao mesmo tempo em que se demonstra a forma como a classe operária e trabalhadora se relaciona consigo mesma e com o patronado. O personagem se encontra inadequado, pertencente a tal sociedade, porém, não “encaixado” nela plenamente, como uma engrenagem haveria de se encaixar plenamente na maquinaria.
    O moderno está presente em tudo, tanto na indústria quanto no ideal de vida doméstico. A família centrada em sua casa confortável, detendo bens de consumo que os diferenciem dos demais representa assim um ideal a ser buscado, e talvez nunca questionado. A cena do imaginário do personagem em uma casa perfeita para viver com sua mulher reflete bem isso.
    A felicidade, a busca por ela, é um caminho muito mais complicado ao que essa sociedade prega. A noção de feliz para o personagem, pelo menos ao início do filme, pertence àquele que come, dorme e não precisa trabalhar. Por isso sua fixação em permanecer preso na cadeia, onde finalmente assim estaria adequado à sociedade em que vive, mesmo que de forma como infrator (já que fora preso pois enlouquecera trabalhando na sua antiga fábrica). A própria cena em que Carlitos “lidera” uma passeata contra os patrões serve para mostrar a diferença entre não se adequar e não gostar de um sitema à plena oposição no mesmo. O personagem não é contra o sistema social em si, tanto que busca se integrar ao mesmo, apenas discorda de algumas posições dos que ditam as ordens e regras (no caso, os patrões).
    O mais brilhante da forma como o filme nos é apresentado é a maneira comovente dos personagens em buscar a plena satisfação através de uma maneira pura, natural. Isso é evidenciado ao final, caso não conseguissem o que queriam, seguir em frente em seu caminho, errando e acertando, desta forma apenas que se pode objetivar seus sonhos. A cena final da película mostra muito bem isso, e evidencia também a não desistência, a eterna busca, mesmo que não se alcance em um horizonte tão distante, pela satisfação e felicidade em um mundo onde o fator da transformação e da desigualdade dita as regras sócias, ou melhor, as impõe.

  10. diogoestevam said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
    CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
    DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

    Disciplina: História Contemporânea (FCH352)
    Professor: Ricardo Figueiredo de Castro
    Aluno: Diogo Barreiros Estevam – DRE: 107361686
    Semestre: 2008.02 – Turno: noturno
    E-mail: diogobestevam@hotmail.com
    Blog do curso: https://fch352.wordpress.com

    Resenha filmográfica:

    Nós que aqui estamos e por vós esperamos

    Este trabalho tem o objetivo de analisar o filme Nós que aqui estamos e por vós esperamos, do cineasta Marcelo Mazagão. O filme de Mazagão apresenta o século XX mediante uma abordagem em que busca a inserção de personagens no contexto dos acontecimentos do século, sejam eles figuras de importância para o desenrolar dos fatos, sejam eles pequenas partes de um contexto maior. Busca, assim, a face humana frente a grandes números estatísticos que tendem a perder o foco da individualidade.
    Ao contrário de Hobsbawm, que trata o século como o “Breve Século XX” delimitando-o entre 1914 e 1991, o cineasta marca o início do período tradicionalmente, isto é, com início em 1901. As primeiras imagens mostram um conjunto formado por máquinas em processos de produção industrial ao lado de pessoas trabalhando ou andando pelas ruas. Todas essas cenas são exibidas em ritmo acelerado e, assim, trazem em si a idéia da expansão das capacidades humanas e da produção, uma produção massificada. Como expoente dessa realidade, vemos imagens do Ford T, primeiro automóvel a ser produzido em série.
    Essa produção massificada não se limita às mercadorias que saem das fábricas. O século XX, na visão de Mazagão, é a era da produção em massa da morte. Isso fica evidente em seu filme, pois as imagens das guerras transpassam toda a obra, além de algumas imagens de assassinatos sumários. Essa idéia da morte em larga escala talvez seja uma das idéias centrais do filme. A questão que emerge é: como a humanidade pode construir, produzir, criar instrumentos para (teoricamente) melhorar a vida do ser humano e ao mesmo tempo instrumentos para destruí-la?
    Contudo, o cineasta, mesmo diante dessa massificação da morte, não abandona a abordagem individualizada, exibindo ao longo de seu filme personagens em suas vidas cotidianas, preferências, histórias familiares e exibe junto às imagens das pessoas, seus nomes e os anos de nascimento e morte. Aliás, a idéia da morte transparece de tal maneira na abordagem de Mazagão que o próprio título do filme provém de uma inscrição de uma entrada de um cemitério.
    A visão do historiador Eric Hobsbawm é a de que o século XX é uma época ainda carente de compreensão. O texto se inicia com doze epígrafes de personalidades, como historiadores, filósofos, artistas, entre outros, que viveram o século XX. As definições para o período são diversas: vão desde a visão de que representou “o século mais terrível da história”, impregnado de violência, até a idéia de que o período foi caracterizado pelo progresso da Ciência. É interessante notar que essas duas idéias também fazem parte da abordagem de Mazagão.
    Como já foi dito anteriormente, Hobsbawm trata o século XX em sua obra como o “Breve Século XX”, delimitando-o entre 1914 e 1991, ou seja, da eclosão da Primeira Guerra Mundial ao colapso da URSS, período considerado pelo autor como “um período histórico coerente”. Assim, o autor considera que todos os fatos ocorridos neste intervalo fazem parte de uma estrutura única. Única, mas não homogênea. O autor considera o Breve Século XX como um “sanduíche histórico” aonde entre dois períodos de catástrofes e incertezas encontra-se um período “de extraordinário crescimento econômico e transformação social”, chamado por ele de “A Era de Ouro”.
    Como já foi assinalado, Hobsbawm afirma que o século XX é de difícil compreensão. Para empreender uma tentativa de entendimento, o autor analisa diversos aspectos em sua abordagem: políticos, econômicos, sociais e culturais. Politicamente, um tema recorrente neste trabalho é a oposição entre capitalismo e comunismo que o mundo assistiu mesmo antes do pós-1945 e início da Guerra Fria. Porém, também destaca a “aliança temporária e bizarra entre capitalismo liberal e comunismo” que segundo ele determinou a derrota nazi-fascista.
    Um traço importante que podemos perceber na obra é a presença do espectro da destruição de vidas característica dessa época caminhando junto aos progressos da Ciência e da produção material. Em uma passagem do texto, após expor os avanços da humanidade, comparando o mundo da década de 1990 ao mundo de 1914 e diante dos depoimentos transcritos nas epígrafes no início do capítulo, o autor diz:

    “Por que, então, o século terminara não como uma comemoração desse progresso inigualado e maravilhoso, mas num estado de inquietação? Por que, como mostram as epígrafes deste capítulo, tantos cérebros pensantes o vêem em retrospecto sem satisfação, e com certeza sem confiança no futuro? Não apenas porque sem dúvida ele foi o século mais assassino que temos registro, tanto na escala, freqüência e extensão da guerra que o preencheu, mal cessando por um momento na década de 1920, como também pelo volume único das catástrofes humanas que produziu, desde as maiores fomes da história até o genocídio sistemático.” (HOBSBAWM,1994: 22)

    Eis o traço característico que identificamos na obra de Eric Hobsbawm acerca do século XX e que se aproxima da visão do cineasta Marcelo Mazagão, embora com abordagens diferentes, já que o historiador inglês enxerga as grandes conjunturas do período como os objetos a serem estudados. Já o cineasta privilegiou os personagens, mesmo que sendo fictícios.

    Bibliografia (de apoio):

    HOBSBAWM, Eric. O século: vista aérea – olhar panorâmico. In: A Era dos Extremos: o Breve Século XX (1914-1991). Companhia das Letras: São Paulo, 1994, pp.11-24.

    Filmografia:

    MAZAGÃO, Marcelo (direção, produção, pesquisa e edição). Nós que aqui estamos e por vós esperamos; Consultoria em História: José Eduardo Valadares e Nicolau Sevcenko; Música: Wim Mertens. DVD (73 min). Cor/P&B. 35mm. Dolby SR. Brasil, 1998.

  11. andreaforti said,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
    Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
    Departamento de História
    Disciplina: História Contemporânea (noite)
    Professor: Ricardo Figueiredo de Castro
    Aluna: Andrea Siqueira D’Alessandri Forti – 5º Período
    DRE: 106076628
    Resenha do filme “Tempos Modernos” – data de entrega: 29 de setembro de 2008.

    RESENHA DO FILME “TEMPOS MODERNOS” DE CHARLES CHAPLIN

    “Tempos Modernos”, lançado em 1936, é um longa metragem do cineasta britânico Charles Chaplin. O filme tem um imenso conteúdo político e é extremamente crítico. Chaplin focaliza a vida urbana nos EUA nos anos 30, traduzindo o período histórico conhecido como a Grande Depressão, marcado pelo desemprego em massa, fome, declínio da produção industrial e dos preços das ações subseqüente a Crise de 1929.
    A frase do início do filme expõe a idéia central da obra: “Tempos Modernos. Uma história sobre a indústria, a iniciativa privada e a cruzada da humanidade em busca da felicidade.” (CHAPLIN, 1936) O cineasta realizou uma sátira às técnicas modernas usadas pela sociedade industrial, caracterizada pela produção com base na linha de montagem e especialização do trabalho, onde os trabalhadores são marginalizados e as máquinas substituem a mão-de-obra. Resumindo, o filme fala sobre a sociedade industrial, o fordismo, o trabalho alienante, o processo de “coisificação” do ser humano e a constante busca da felicidade.
    Em uma das primeiras cenas do filme (senão a primeira), aparece um rebanho de ovelhas e logo em seguida, aparece um grupo de trabalhadores se dirigindo às indústrias. O cineasta fez uma analogia entre os dois mostrando a docilidade e obediência de ambos, os últimos obedecendo pacificamente às estruturas hierárquicas da sociedade industrial.
    Em seguida, Chaplin apresenta o primeiro ambiente de trabalho do personagem principal interpretado pelo próprio cineasta: uma linha de produção. O trabalho consiste em apertar parafusos. O trabalho é apresentado como algo mecânico, alienante, tedioso, desprovido de sentido. A linha de montagem fordista com sua especialização produz partes de mercadorias não-identificadas. O operário perde a noção total de produto dada à divisão de tarefas. Em outra cena, onde o personagem aparece na rua apertando botões de roupas, partes de um hidrante e tudo que se parece com parafusos mostra que o trabalhador torna-se uma simples máquina, incapaz de discernir, incapaz de raciocinar. A ligação com a máquina é tão grande que o operário passa a ser parte dela, tanto que o personagem é engolido por ela.
    Neste ambiente destaca-se a tentativa de controle do funcionário por parte do chefe: o capataz controla o andamento da linha de produção e o chefe dita a velocidade desta através de uma grande tela por onde controla seus funcionários. Outro exemplo é a tentativa da utilização da Máquina Alimentadora: “um artefato prático para alimentar seus empregados enquanto trabalham” (CHAPLIN, 1936), procurando eliminar os tempos mortos da produção.
    Um dos momentos mais engraçados e interessantes do filme é a cena em que o personagem encontra uma bandeira vermelha que caiu de um caminhão. Ele acena, sacudindo a bandeira e chama pelo dono, logo em seguida, surge um grupo de militantes atrás, “juntando-se” a ele. A polícia chega e o toma como líder. Neste período, a luta de classes se radicalizou, aumentando a consciência política e a organização dos operários, onde o partido Comunista conseguiu mobilizar grande parte dos trabalhadores.
    O personagem teve vários empregos devido à sua inadaptação ao serviço. A mudança de emprego é constante, a questão é o estranhamento do mundo do trabalho. Um destes empregos foi como vigia de uma loja de departamentos. Nesta parte (e também na cena que mostra o sonho da casa própria), Chaplin mostra a felicidade personificada em mercadorias, a felicidade pode ser comprada. A lógica capitalista “coisifica” até as emoções humanas. Também nesta parte, a mesma loja é invadida por ladrões. Um deles é um antigo companheiro do personagem que está desempregado e diz não ter alternativa senão roubar para sobreviver, ou seja, Chaplin mostra a criminalidade como reflexo da exclusão social.
    Ao longo do filme que é praticamente mudo, há alguns momentos com falas. São sempre momentos em que há uma máquina falando: um rádio ou uma gravação qualquer. Os seres humanos não têm voz, somente as máquinas.
    No final do filme, a viagem do personagem junto à órfã para o horizonte pode ser interpretada como a morte social dos personagens. Tentar escapar da sociedade burguesa seria algo impossível, visto que ninguém pode se isolar socialmente, por isso, os dois personagens estariam destinados a não-existência.

    REFERÊNCIAS:

    – ALVES, Giovanni. A batalha de Carlitos: trabalho e estranhamento em Tempos Modernos, de Charles Chaplin. In: ArtCultura. Uberlândia, v.7, n.10, jan-jun 2005.

    – CHAPLIN, Charles. Tempos Modernos. Título original: Modern Times. Preto e Branco. Legendado. Duração: 87 min. Warner, 1936.

  12. sergioverdan said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAS
    DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
    DISCIPINA: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
    PROFESSOR: DR. RICARDO CASTRO
    ALUNO: SERGIO LUIZ MORAES VERDAN – DRE: 104118872
    DATA: 29 DE SETEMBRO DE 2008.

    Resenha do Filme Tempos Modernos – Charles Chaplin.

    No filme Tempos Modernos, Charles Chaplin deixa explícito, já na abertura da obra, suas idéias: “Uma história sobre a indústria, a iniciativa privada e a cruzada da humanidade em busca da felicidade.”
    É uma crítica atual à modernidade, situada na vida urbana americana pós-crise de 1929. Desemprego em massa, produção industrial com linhas de montagens, controle do trabalhador, organização da classe operária, greves e desigualdade social são alguns dos temas abordados por Chaplin.
    Em seu humor mudo, o sistema capitalista é colocado a prova em todo o instante. A busca incansável do lucro pelo empresariado, que vigia e controla o operário em toda a linha de produção, em péssimas condições de trabalho, determinando a velocidade da produção e impedindo que o ser humano exponha sua criatividade, pense ou haja de uma forma natural, robotizando-o totalmente, fazendo com que o trabalho seja visto como algo sacrificante, que não proporciona prazer nem felicidade. O trabalho alegre passa a ser substituído pelas metas de produção.
    Novidades industriais que buscam a otimização do tempo de trabalho e maior produtividade, são apresentadas como soluções para as fábricas, colocando o trabalhador e as condições de trabalho sempre em segundo plano
    A automatização do trabalho além de limitar o homem em uma única atividade, cria dificuldades quando este precisa buscar um novo emprego ou mudar sua atividade, pois, simplesmente, não possui outra qualificação, tendo bastante dificuldades em se adaptar em um novo emprego.
    A luta contra o capitalismo é bem representada pela organização da classe trabalhadora em greves e passeatas contra o desemprego, em busca de melhores condições humanas e sociais, para uma melhor distribuição de renda e igualdade social.
    A passagem do personagem pelo hospício e pela prisão, sintetiza um pouco da situação do trabalhador, que com a automação do trabalho, tem suas atitudes cotidianas resumidas as atividades da indústria e quando ele passa a contestar ou ir contra o “sistema”, é simplesmente isolado pelas classes dominantes.
    A falta de oportunidades de empregos acaba gerando problemas sociais como a fome e miséria da grande população, que é totalmente oposta a situação da pequena classe dominante, que tem indiferença com a atualidade do país e da maioria das pessoas.
    A violência urbana também é retratada como conseqüência do ciclo capitalista. O trabalhador desempregado, não qualificado, sem oportunidades, se vê coagido ao crime como uma forma de sobrevivência e, porque não, de protesto.
    A felicidade para a burguesia é sintetizada nos bens de consumo, que é o marco principal da sociedade capitalista. Já para Chaplin, essa felicidade está representada nas coisas simples do interior do ser humano, seja um simples café da manhã em uma pequena e humilde casa, seja uma conversa num belo jardim, ou no prazer de cantar e dançar, em poder fazer o que se gosta, sem metas ou ordens.
    No filme, no momento de maior felicidade das personagens, quando ambos estão empregados no bar, e tudo parece se encaminhar para um “final feliz”, aparece o “sistema”, representados como guardas do “juizado de menores” para levar a “órfã fugitiva” e retirar a felicidade de ambos.
    Chaplin propõe então a fuga do mundo capitalista e a busca de uma sociedade mais justa, com igualdade social, condições dignas de trabalho, melhores salários e um local onde seja possível viver bem e ser feliz.

  13. celiadaniele said,

    UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
    IFCS – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
    História Contemporânea
    Prof: Ricardo Castro
    Aluna: Celia Daniele Moreira de Souza – DRE: 106021754
    Data: 29/09/2008
    Resenha: Tempos Modernos

    O filme de Charles Chaplin mais do que um entretenimento, é um objeto historiográfico, ele demonstra em todas as suas nuances a sociedade européia do entre guerras, anterior à Crise de 29, em meio a sua recessão econômica. Além disso, critica os valores capitalistas e morais de uma sociedade que teme a si mesma.
    O personagem Carlitos é retratado em diversas caricaturas da sociedade moderna do início do séc. XX. Como o operário, Carlitos enlouquece sob o sistema fordista; como desempregado é confundido com o líder de um movimento comunista; como presidiário vive melhor do que um homem livre e pobre; como homem livre não encontra espaço na sociedade para se impor e requerer seus direitos;como artista é a única maneira de adquirir este espaço.
    A indústria retratada no filme é quase uma alusão aos dias atuais, com o patrão vendo tudo, controlando tudo. A máquina para aumentar a produtividade do empregado ao alimentá-lo para ele trabalhar no horário de almoço é uma crítica ferrenha à falta de humanidade aos conceitos capitalistas, que vêem o operário como um fator de produção e não como um ser humano. A máquina é descartada por não ser funcional, e não por colocar o operário numa situação desagradável e humilhante.
    Quando Carlitos é preso como líder comunista, ilustra também o pavor daquela sociedade por algo que desestruturasse seu modelo econômico, ao prender um homem como líder simplesmente por ele estar segurando uma bandeira vermelha. Aliado a isso pode-se ver como os movimentos grevistas eram “caso de polícia”, novamente desrespeitando os direitos dos trabalhadores, e protegendo somente os empresários, o topo da sociedade.
    O encontro de Carlitos com a órfã serve para ilustrar também várias situações extremas daquela sociedade. A própria personagem da órfã demonstra o descaso da sociedade capitalista com os menos desfavorecidos: ela não tem nome, é somente mais uma na multidão; ela não tem direitos, pois está à margem da sociedade.
    Mais o que mais impacta na narrativa é quando Carlitos se torna artista: somente aqui ele tem voz. Da mesma forma que somente o patrão tinha voz no filme, Carlitos só ganha voz quando se torna artista. Isto é uma metáfora para a estruturação da sociedade capitalista do entre guerras (e por que não dizer da atualidade): a polícia, o médico, Carlitos, a órfã não possuem representabilidade na sociedade em que vivem, eles não tem domínio sobre as próprias vidas. Quem age, quem comanda a sociedade e a vida de cada indivíduo são os que estão no comando das indústrias, quem detém das divisas que investem e movimentam o liberalismo econômico existente. Não há representação do Estado com voz, atuante, neste filme, é como se somente o capital que ditasse as regras e que decidisse sobre a vida das pessoas.
    Entretanto Carlitos adquire voz, se expressa através da arte, da música, mas não obtém sucesso, não no sentido de notoriedade, mas não consegue mudar a própria sina e de sua companheira. No final do filme eles caminham em busca de uma solução, em busca de algo que dê valor à sua própria existência, que parece insignificante para o resto do mundo. Sorrir é o remédio, sorrir é a única maneira de continuar em sua trajetória, e a única forma de fazer com que sua difícil jornada se torne suportável. Assim, Charles Chaplin nos brinda com uma análise mais subjetiva e menos extremista do que os movimentos sociais levantados e questionados na sua época: a felicidade e a mudança só poderiam surgir de dentro deles mesmos e só então tomar toda a sociedade.

  14. velbomfim said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)
    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
    CURSO DE HISTÓRIA
    HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
    PROF°: Ricardo Castro
    NOME: Verônica Cavalcante Bomfim DRE: 105092980
    RESENHA DE FILME N°1

    TEMPOS modernos. Título original: Modern Times. Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin. Intérpretes: Charles Chaplin, Paulette Goddard. Roteiro: Charles Chaplin. Música: Charles Chaplin. [Rio de Janeiro: Warner Home Vídeo], 1936. 1 DVD, aprox.83 min. P&B, son.

    O filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, é um dos clássicos do cinema. Uma de suas grandes contribuições para a historiografia é seu teor crítico ao capitalismo e suas conseqüências para a parcela menos abastada da população. Este filme marca o modo ímpar de Chaplin tratar questões ácidas, mesmo que fizesse as platéias rirem.
    Charles Spencer Chaplin nascera em 16 de abril de 1889, na vizinhança de Wallworth, na cidade de Londres, Inglaterra. Seus pais, Charles e Hannah Chaplin, trabalhavam em um music hall da cidade, o que significaria que o jovem Chaplin cresceria em meio à atmosfera do palco. Já com 17 anos integraria a trupe inglesa de vaudeville de Fred Karno, onde ficaria até os 24 anos. Ao final de 1913, assina com Mack Sennett, que o leva para a ainda nascente Hollywood, onde no ano seguinte faria seu primeiro filme Making a Living, inédito no Brasil. Em 1918, depois de aproximadamente 50 filmes feitos desde que chegar a Hollywood, integra a First Nation, posteriormente anexada a Warner Bros. Em 1919, começa a fazer parte da United Artists, produtora que concentraria os grandes nomes da sétima arte, como Mary Pickford e D.W. Griffith. A partir daí, dirigiria e produziria seus filmes, como O Garoto (The Kid), de 1921. Ganharia um Oscar especial, na primeira edição do prêmio por O Circo, de 1928, por “sua versatilidade e gênio em escrever, atuar, dirigir e produzir” .Após a esse acontecimento, fez mais alguns filmes como Luzes da Cidade (City Lights), em 1931, Tempos Modernos (Modern Times), em 1936, e O Grande Ditador (The Great Dictator), em 1940. Em 1952, deixa os Estados Unidos e vai morar na Suíça, acusado de comunismo, diante da perseguição macartista. Volta apenas em 1972 ao território estadunidense, para receber o Oscar honorário pela sua contribuição para os filmes. Também recebe o título de Cavaleiro Comandante do Império Britânico, com a designação de Sir, em 1975. Morre em 1977, na noite de Natal, em Vevey, Suíça.
    O filme a ser tratado, especificamente, Tempos Modernos, de 1936, com o nome de Modern Times originalmente, fora dirigido, produzido, escrito e protagonizado por Charles Chaplin. Ao fazer esse filme, Chaplin capta a união da pobreza e prosperidade do capitalismo, das maravilhas conseguidas com os avanços tecnológicos, assim como essa novidade pode empregar certa tragicidade na vida das massas desse começo de século. Mesmo que Chaplin se inspire na maior crise do capitalismo no século XX, a crise de 1929, o longa-metragem pode tratar claramente dos períodos anteriores às primeiras décadas do novecentos. De acordo com o que o Prof° Francisco Falcon propõe, ao final do século XVIII até ao 1870, há predominância do capitalismo industrial, com seu maior símbolo, a máquina, concentrando as novas diretrizes políticas, sociais e econômicas por meio da instalação da mesma; e de 1870-1914, a era do capitalismo monopolista e imperialista, em que os grandes centros econômicos do mundo expandem interna e externamente à Europa seus poderios .
    Logo nos seus primeiros minutos de filme, Chaplin deixa clara a sua intencionalidade em criticar a principal protagonista do desenvolvimento capitalista: a máquina. Tenta demonstrar como a instalação desta tornou o homem um simples reprodutor de gestos repetitivos, incapaz de expressar suas vontades, liberar sua criatividade. No momento em que o operário interpretado por Chaplin entra na engrenagem, demonstra o quanto homem passa a se confundir com os gestos automáticos da tecnologia. O indivíduo é, inclusive, reduzido dentro de suas necessidades mais básicas, como em um momento de almoço, em que o capitalista quer reduzir, a fim de aumentar a produtividade de sua fábrica. Assim como coloca Hobsbawm, enquanto os compradores de trabalho estavam mais preocupados em adquirir mão-de-obra mais barata, para obter lucros mais altos, os trabalhadores apenas buscavam salários que pudessem satisfazer suas necessidades mais básicas, como moradia e alimentação; estavam mais interessados em defender alguma dignidade restante em suas vidas que em transações econômicas .
    Depois de ter um momento de loucura, o operário interpretado por Chaplin integra outras instituições importantes na formação do mundo capitalista, tais como a prisão, local de repressão daqueles considerados marginais do sistema instituído. Em um primeiro momento, adentra neste local por integrar uma greve, mas, ao longo filme, seus motivos para ir à prisão são variados, seja por comer ser pagar seja por desobedecer às ordens de seu patrão. Demonstra então o quanto esse grupo de trabalhadores, cada vez mais empurrados para um abismo de necessidades; enquanto tantos se fartam nas lojas burguesas, o operário – encarnado pelo seu personagem mais famoso, The Tramp, ou O Vagabundo – e a garota órfã – interpretada pela atriz Paulette Goddard – são presos por apenas atender ao instinto da fome; ou quando O Vagabundo é preso por dormir e utilizar alguns produtos de uma loja de departamento, enquanto vários clientes abastados atendem suas necessidades de champagnes ou brinquedos. Como explicita Hobsbawm, eram objetos repletos de significados os aparatos burgueses, já que o possuir qualquer um desses objetos traduziria um status econômico, uma diferenciação social; eram estes objetos capazes de transformam a vida do homem .
    Em outro momento do longa, O Vagabundo e sua companheira finalmente conseguem uma ocupação, no café lotado de burgueses. Só conseguem essa posição ao entreter os pagantes do estabelecimento, dando a entender que os marginalizados são inclusive motivo de galhofaria para aqueles que estão nas posições mais altas da sociedade.
    É também nesta seqüência do café que o sistema capitalista é demonstrado como implacável, já que mesmo na tentativa dos protagonistas mudarem suas vidas, alcançarem empregos que possam dar-lhes algum tipo de dignidade, tendo melhor moradia e alimentação, algo que faltava a ambos durante toda a parte inicial da película, a polícia encontra a moça fugitiva no café e, em um gesto de solidariedade, O Vagabundo segue-a. Encontram-se, a partir daí, sem emprego. Vêem, então, que o novo rumo a tomar é se distanciar daquilo tudo que sofreram e começarem uma vida nova em outro local, talvez uma maneira não-explícita de Charles Chaplin demonstrar seu inconformismo em relação ao capitalismo e aos malefícios que este sistema trouxera para várias pessoas, principalmente as mais simples.
    Importante explicitar que, durante o filme, Chaplin trabalha com a dicotomia inerente ao capitalismo, ora mostrando a grandiosidade deste novo mundo, ora mostrando o como algumas pessoas, como os protagonistas, são deixadas aquém desta gloriosa mudança. Assim como estipula Marshall Bermann, Charles Chaplin tenta ressaltar o quanto essa modernidade une as pessoas, como no caso da união entre os dois protagonistas, vitimados pelo mesmo sistema econômico e político cruel, assim como desune, ao impor barreiras quase intransponíveis entre o mundo burguês e o do trabalhador. Une as classes e as nacionalidades, mas desune em um processo de luta constante entre homens que não estão geograficamente tão distantes, como é o caso da contradição entre o trabalhador desempregado e o burguês ostentoso .

    Bibliografia utilizada

    1. Livros

    BERMAN, Marshall. Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo, Companhia das Letras, 2007.

    HOBSBAWM, Eric J. A Era do Capital (1848-1875). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

    REIS FILHO, Daniel Aarão (org.) O século XX: o tempo das certezas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000.

    2. Internet

    IMDB (The Internet Movie Database). Biography for Charlie Chaplin. Acesso em 21 de setembro de 2008.

  15. judsontorres said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
    DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
    DISC.:HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA – PROF. RICARDO CASTRO
    ALUNO:JUDSON PASSOS MARTINS TORRES-106030054

    RESENHA DO 1° FILME:
    TEMPOS MODERNOS ( CHARLES CHAPLIN )

    O filme é uma abordagem historiográfica da década de 30, porém mais do que isso é uma abordagem historiográfica de um sistema que durante muitos anos foi o utilizado nas linhas de produção fabris.
    Onde a população pobre se submetia a condições desumanas de trabalho. Afim de manter seu sustendo indigno e movimentar a máquina capitalista. População essa que veio a se estabelecer como o o proletariado.
    Chaplin em seu filme retrata as mais variadas contradições da sociedade naquele período. Lembrando que essas contradições, em sua essência, são as mesmas tratadas no texto de Berman. Contradições das sociedades modernas que se configuram através das mais variadas mudanças. Que podem ser entendidas tanto como avanços, quanto como anseios.
    Dentre as diversas situações, o filme retrata um operário e sua rotina na fábrica. Dentro deste universo podemos observar características daquele período histórico que bem conhecemos.

    As rotinas de trabalho eram exaustivas. Os funcionários das fábricas não dispunham de nenhum tipo de benefício empregatício. Trabalhavam sobre a vigilância de capatazes que controlavam a todo momento a produção e andamento das atividades. Eram obrigados a cumprir cargas horárias que comprometiam sua saúde e por muitas vezes os fazia adoecer. O próprio personagem “Carlitos” desenvolveu um certo tipo de tique nervoso, que representava exatamente o movimento que ele fazia na linha de produção.

    No enredo o personagem sofreu um colapso nervoso. Ao sair do hospital, depois de um período de internação, nos é apresentado um outro problema daquela época: o desemprego. Os empregadores não tinham nenhum tipo de responsabilidade com seus empregados, isso gerava uma política de desvalorização dos mesmos. Onde as pessoas que dependiam do trabalho para sobreviverem não podiam nem se dar ao luxo de ficarem doentes. Mulheres grávidas como sabemos eram demitidas sem direito a nenhum tipo de benefício, assim como os demais trabalhadores que por algum motivo não interessavam mais aos patrões.
    O desemprego foi muito bem explicitado pela cena das enormes filas de pessoas em frente as fábricas, buscando uma oportunidade de trabalho.

    Tal desemprego é facilmente explicável pela mecanização da produção. Os empresários viam nas máquinas o empregado que não tirava hora de almoço, não adoecia, não fazia corpo mole, não exigia salário… enfim, as máquinas se estabeleciam cada vez mais como essências para a classe dominante e excluíam cada vez trabalhadores de seus postos de trabalho.E ainda neste momento elas eram o foco das atenções empresarias e políticas.

    Outro fator que é de relevância citarmos na resenha é o movimento grevista. Mediante a tantos problemas no que tangia ao setor trabalhista da sociedade, começaram a surgir os movimentos que buscavam melhorias nas condições de trabalho. Se popularizaram então as greves como forma de protesto a péssima situação vivida. Momento do filme em que podemos exemplificar tal componente da sociedade em questão, é quando o “Carlitos” sai do hospital e é confundido com um líder da causa operária.
    Neste aspecto cabe voltar ao texto de Berman e suas contradições. A burguesia passou de classe dominada para classe dominante e neste momento ela começa sofrer com a ação das “classes baixas”. Deixando de lado assim o papel de revolucionária para o alvo da revolução.
    Tais greves tem acopladas a elas outro fator representativo daquele período. Os constantes conflitos entre a polícia e/ou meios de repressão e a população, que comumente estava lutando por melhorias em seus direitos.

    Entre outros fatores daquela sociedade, para mim, o texto fala basicamente das relações trabalhistas. Como as pessoas se situavam naquele momento em que o mundo se recuperava de uma grande crise, que foi a Quebra da Bolsa de Nova York em 1929. O filme produzido por Chaplin, assim como todo filme, tem um caráter de certa forma de divertimento, entretenimento… ainda mais com um toque de humor de Chaplin. Mas fica bem claro o apelo histórico da película. Onde foi possível notar os pontos acima citados por mim : as péssimas condições de trabalho, o descaso dos empregadores em relação aos seus empregados, as condições precárias de saúde, o desemprego, as greves, os conflitos com a polícia… mas acima de tudo:as contradições da modernidade(como tem sido trabalhado no curso ). Em que a única coisa que é estável, é a constante mudança.

  16. marinagerasso said,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro
    Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
    Faculdade de História
    Disciplina: História Contemporânea – Professor: Ricardo Castro
    Aluna: Marina Gerasso – 105032930

    Resenha do filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin.

    Ficha técnica:

    – Título original: Modern Times / The masses
    – Gênero: Comédia
    – Origem/ano: EUA/1936
    – Duração: 88 min
    – Roteiro: Charles Chaplin
    – Direção: Charles Chaplin
    – Sinopse: Um operário fica louco com o ritmo intenso do trabalho braçal onde consegue o seu ganha pão. Demitido, acaba parando em um hospital. Quando sai, é confundido durante um protesto comunista e acaba preso. Em meio a toda essa confusão, ainda arruma tempo para ajudar uma jovem órfã.

    As cenas iniciais de “Tempos Modernos” apresentam alguns dos principais elementos componentes de uma fábrica do tipo fordista-taylorista. Na verdade, a temática do filme centra-se justamente na denúncia desse modelo de produção. A comparação estabelecida entre a cena dos operários entrando na fábrica e um rebanho de ovelhas demonstra que a película de Charles Chaplin tem a intenção de ir muito além de um filme de comédia. Chaplin realiza uma inteligente sátira às técnicas modernas, usadas pela sociedade industrial, na qual as máquinas substituem a mão-de-obra e os operários são marginalizados.
    Chaplin nos apresenta o cotidiano do capitalista. Ele aparece parasitário, montando quebra-cabeças, lendo jornal e digerindo um comprimido de medicamento. Possivelmente Chaplin esteja sugerindo que o capitalista deve estar preocupado com a crise. Vale lembrar que o filme insere-se no contexto da Grande Depressão de 1929 que abalou os países capitalistas de todas as partes do mundo. A fábrica, que mais à frente aparecerá fechada, servirá como exemplo do que ocorrera com diversas outras que foram abaladas pela avalanche de falências de empresas provocadas pela crise de superprodução e subconsumo, que teve como ponto culminante a chamada “quinta-feira negra” do dia 24 de Outubro de 1929, data marcante pela quebra da Bolsa de valores de Nova Iorque.
    Na seqüência do filme fica evidente a tentativa do filme em ilustrar as formas de controle do capital sobre a força de trabalho. O capitalista, dono da fábrica, controla a velocidade das esteiras de produção a fim de acelerar a produção e por conseguinte aumentá-la. Os operários constituem apenas um dos componentes de um amplo sistema de máquinas, compondo assim uma mera engrenagem, representada na cena clássica em que o operário é engolido pela máquina.
    Um dos elementos mais marcantes do filme está representada no surto nervoso provocado no trabalhador industrial (o próprio Chaplin) que, inserido nesse sistema de produção do tipo fordista, começa a enlouquecer por causa de seu trabalho repetitivo e monótono. O surto é gerado a partir de um dia muito exaustivo de trabalho. O operário passa por uma intensificação significativa em seu ritmo de trabalho a partir da aceleração do funcionamento das esteiras realizado pelo capataz do dono da fábrica. Além disso, segue-se uma tentativa de experiência, também realizada pelo capataz, para tirar a maior parcela de lucro possível do trabalho exercido pelo operário. Para completar o dia alucinante do trabalhador há a cena do banheiro, na qual ele não consegue descansar, atormentado pela perseguição do capitalista.
    A partir do dia descrito anteriormente, o trabalhador industrial começa a ter atitudes subversivas para o padrão rígido de funcionamento da fábrica. Uma das cenas emblemáticas disso fica notável quando o personagem de Chaplin joga óleo em seu patrão,o dono da fábrica. Nesse sentido, talvez fosse intenção do diretor tentar mostrar que mesmo o capitalista dono da fábrica faz parte de uma engrenagem que, associada a outros elementos (máquina, fábrica, operário), compõe o sistema fordista de produção.
    É interessante salientar que em “Tempos Modernos” podemos observar que o fordismo constitui mais um modelo de produção em massa que um modo de desenvolvimento, o que só viria a ocorrer após a II Guerra Mundial. Dessa maneira, “Tempos Modernos” se insere como um filme de transição, representando um período histórico em que podemos perceber um fordismo ainda incompleto. Ainda não constituído como modo de vida, o modelo na sua forma completa só seria vivido mais tarde, a partir das lutas de classes e da estruturação dos sindicalismos organizados. Mesmo assim, no filme estão postos alguns elementos que irão constituir, mais adiante, o compromisso fordista, a ação coletiva dos operários, com passeatas e greves de massa. A figura da mulher proletária no filme irá compor justamente a personagem que representa os anseios fordistas.
    O filme “Tempos Modernos” demonstra que, durante a década de 1930, marcada pela Crise de 1929 e por inovações capitalistas profundas na produção e no processo de trabalho, o avanço do fordismo, grande crítica de Chaplin, representava o avanço de uma modernidade catastrófica,que gerava uma competição e um desejo de sucesso e êxito através de um capitalismo que desrespeitava por completo as condições de vida e trabalho dos operários. Dessa maneira, a racionalização do mundo capitalista é fortemente combatida por Chaplin, pois levava a uma estrutura de formação de domínios imperialistas e disputas por um monopólio cada vez maior por parte das empresas que dominavam o cenário econômico mundial.
    Vale, por fim, comentar, que esta obra de Chaplin chegou a ser proibida durante a década de 30 pela Alemanha de Hitler e pela Itália de Mussolini, que usaram o argumento de que o filme continha forte conteúdo e panfletagem socialistas. Chaplin chegou a ser fortemente perseguido também em seu próprio país, principalmente durante uma política promovida pelos Estados Unidos da América conhecida como “macartismo”, atitude política radicalmente infensa ao comunismo, que se desenvolveu nos Estados Unidos, com a campanha desencadeada pelo Senador Joseph Raymond McCarthy.

    Bibliografia:
    http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=181

    Filmografia:
    – Chaplin, Charles – Tempos Modernos, EUA,1936.

  17. sandraferreirasantos said,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro
    Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
    Departamento de História
    História Contemporânea – Prof. Ricardo Castro

    Nome : Sandra Ferreira dos Santos DRE: 105039607

    Resenha do Filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin (Modern Times, EUA 1936). DIREÇÃO: Charles Chaplin; ELENCO: Charles Chaplin, Paulette Goddard. 87 min. preto e branco, Continental.
    (data de entrega: 29/09/2008)

    O filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin, trás uma crítica à modernidade e ao capitalismo selvagem, que, na concepção do autor, ao contrário de trazer bem-estar social, trata a todos como gado. Apesar das cenas hilariantes, o filme mostra os problemas sociais graves que afligiram os Estados Unidos no início dos anos de 1930, após a crise de 1929. A grave crise do capitalismo mundial que ocorreu neste período e os problemas que causou para a sociedade, fez com que muitos duvidassem da capacidade deste sistema econômico de permanecer no longo prazo (Falcon, 2000, pg.11).
    O que vemos no filme é uma sociedade arrasada, com um alto grau de desemprego e empobrecimento e um total desrespeito pelo ser humano. A implantação da linha de montagem nas fábricas, que, com o advento do fordismo, trouxe maior produtividade para os capitalistas, desconsiderava por completo a pessoa por trás da máquina. Os movimentos repetidos milhares de vezes e cada vez mais rapidamente, traziam, como bem mostra Carlitos, problemas para o corpo e para a mente.
    A verdade é que a separação do trabalhador dos meios de produção e a divisão do trabalho, só trouxe vantagens ao capitalista. O homem comum, o operário, perde o sentido e o gosto do seu trabalho, além de ficar completamente subordinado ao capital. A velocidade do novo tempo desorienta e enlouquece, fazendo-nos crer “que tudo que é sólido desmancha no ar” (Marx, citado por Berman, 2007, pg. 24). Os valores se perdem, o dinheiro é o novo deus. Os homens nada mais são que peças dessa engrenagem, sem valor algum, que podem ser repostos sem dificuldade, em uma sociedade faminta de empregos.
    Chaplin mostra a diferença gritante entre ricos e pobres e que estes últimos viram seus sonhos se reduzirem à mais animalescas necessidades: comer e se abrigar. Carlitos, após ser preso, não deseja mais sair da prisão. Fez tudo para voltar para lá, onde ao menos tinha o que comer e onde morar. A exploração do operário é demonstrada pelos ritmos opostos da linha de montagem e do escritório do patrão, que toma chá, lê seu jornal e ordena que todos trabalhem mais rapidamente.
    O nível da exploração é tão acentuado, que mesmo o horário de folga para almoço deveria ser evitado, com a criação de máquinas que alimentassem os operários enquanto trabalhavam. Obviamente em forma de piada, esta cena mostra a tônica do capitalismo, que pretende chegar ao infinito em sua produção e rentabilidade, a partir da introdução de máquinas que trabalhem tão rápido que não permitam ao homem nem mesmo se coçar. No filme, quando Carlitos tenta espantar uma mosca, toda a linha de produção tem que parar, em virtude de ele não ter apertado um parafuso no momento certo.
    Destaca-se a tentativa de controle total do funcionário neste período da história, quando, não só a implantação do fordismo, mas da teoria dos tempos e movimentos de Taylor, transformou o operário em um componente produtivo a ser monitorado, a fim de lhe conseguir sempre uma maior produção.
    Fato também mostrado no filme, e que valeu a Chaplin uma forte perseguição pelo macartismo, é a verdadeira neurose anti-comunista que se abateu por longo tempo nos Estados Unidos. Qualquer greve era revolucionária, qualquer reclamação era denunciada. O próprio personagem foi preso por ser acusado de liderar uma greve, quando apenas tentava avisar ao motorista de um caminhão que sua bandeira de sinalização havia caído. De fato, a luta de classes se radicalizou e o partido comunista ganhou adeptos, mas este período foi verdadeiramente de “caça às bruxas”.
    Curioso observar os rostos dos presos no caminhão e os ladrões da loja onde Carlitos se emprega como segurança: eram todos trabalhadores sem emprego, alguns colegas da fábrica onde Carlitos trabalhara. Crianças roubavam para comer, os pais perdiam sua dignidade. A crítica social é feita de forma brilhante, conseguindo fazer rir diante de um momento que beira ao absurdo.
    O movimento operário e a criação de sindicatos eram perseguidos, mas os trabalhadores se vingavam quebrando máquinas e atrasando a produção. Vemos isto quando Carlitos tem uma crise nervosa e passa a agir estranhamente na fábrica, dando, certamente, vazão ao sentimento de todos os operários. No entanto, na situação que viviam naquele momento, somente um louco arriscaria perder seu emprego, por mais penoso que este fosse.
    Além das contradições do capitalismo, este sistema econômico que, como afirma Falcon (2000, pg.11-76) trás, ao mesmo tempo, a superprodução e a miséria, o poder e a fome, a desigualdade extrema, Chaplin apresentou com perfeição o sentimento da época com relação à modernidade. A vertigem da velocidade, a eterna mudança, o mundo que esquece o homem. Este turbilhão que Marshall Berman analisa em seu livro “Modernidade – ontem, hoje, amanhã” (2007) e que Marx e Nietzsche já percebiam como sendo repleto de seus contrários (Berman, 2007, pg. 24).
    Segundo Marshall Berman, a história da modernidade pode ser dividida em fases. Uma delas é justamente esta que é apresentada no filme de Chaplin, ou seja, no início do séulo XX, quando, segundo este autor, ocorre uma expansão do processo de modernização e a idéia de modernidade “perde muito de sua nitidez, ressonância e profundidade e perde sua capacidade de organizar e dar sentido à vida das pessoas” (Berman, 2000, p.26). Ocorre uma acentuada perda de valores e de todas as certezas, trazendo um mal-estar para a humanidade, por não saber entender o mundo nem o que esperar dele.
    Hoje em dia, no século XXI, estas características se acentuaram. O mundo está em um processo de passagem para um novo tempo, onde teremos que reestruturar valores e conseguir algumas certezas. Esta falta de apoio e de horizonte que hoje se coloca a uma grande parte da humanidade, cria um sentimento de que devemos correr contra o tempo. É preciso fazer tudo, sentir tudo, nos permitir tudo. Não paramos mais para pensar ou para construir, pois amanhã algo novo já terá surgido. Este sentimento tem se aprofundado e vem crescendo a cada dia, fazendo com que as pessoas procurem levar o presente ao esgotamento. Nas palavras de Lulu Santos , na música também chamada “Tempos Modernos”:
    “Hoje o tempo voa amor
    Escorre pelas mãos
    Mesmo sem se sentir
    E não há tempo
    Que volte amor
    Vamos viver tudo
    Que há prá viver
    Vamos nos permitir”

    Obras Referenciadas:

    “Tempos Modernos” de Charles Chaplin (Modern Times, EUA 1936).

    BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo, Companhia das Letras, 2007. Introdução: “Modernidade – ontem, hoje, amanhã” p.24-49.

    FALCON, Francisco. “O capitalismo unifica o mundo” In: REIS FILHO, Daniel Aarão (Org.) O século XX: o tempo das certezas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000, p. 11-76.

  18. sandraferreirasantos said,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro
    Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
    Departamento de História
    História Contemporânea – Prof. Ricardo Castro

    Nome : Sandra Ferreira dos Santos DRE: 105039607

    Resenha do documentário “Nós que aqui estamos por vós esperamos” de Marcelo Masagão Brasil, 1998.
    (data de entrega: 06/10/2008)

    No documentário “Nós que aqui estamos por vós esperamos”, Marcelo Masagão nos proporciona uma “vista aérea” sobre os acontecimentos do século XX, utilizando para esta finalidade a obra de Eric Hobsbawn “A Era dos Extremos” e os fundamentos da Psicanálise freudiana.
    Utilizando-se de imagens rápidas acompanhadas de uma música emocionante e repetitiva, o filme capta com perfeição a loucura da modernidade, a falta de sentido do homem, a banalização da vieolência e a grande destruição produzida pela humanidade.
    Segundo Hobsbawn, o século XX é visto por diversas pessoas como um tempo terrível de guerras e massacres como nenhum outro na história da humanidade. No entanto, o processo de esquecimento do passado e a busca por um eterno presente que vivemos hoje em dia, nos fazem esquecer que este passado nem tão distante teve conseqüências que até hoje se apresentam. Por isso o trabalho dos historiadores, que consiste também em lembrar o que as outras pessoas esqueceram, é hoje em dia tão importante (Hobsbawn, 1995,pg. 13-14). O documentário de Masagão começa realçando esta idéia do dever do não esquecimento, quando em sua primeira cena afirma “O historiador é o rei”.
    Francisco Carlos Teixeira (2004, pg. 1-25) chama o século XX de “século sombrio”. Nele presenciaram-se guerras, fomes, genocídios, extremismos e opressão como nunca se viu. Mas foi também um século de descobertas e conquistas humanas também nunca antes sonhadas. Foi assim, um século “entre luzes e sombras”, que trouxe maravilhas e incertezas quanto à própria racionalidade humana.
    Em termos históricos, o século XX abrange o período que vai da I Guerra Mundial ao colapso da URSS, visto que este fato marca claramente o fim de uma era e o começo de uma outra. Este século pode ser entendido como um “sanduíche”: “a uma era de catástrofe, que se estendeu de 1914 até depois da II Guerra Mundial, seguiram-se cerca de 25 ou 30 anos de extraordinário crescimento econômico e transformação social, anos que provavelmente mudaram de maneira mais profunda a sociedade humana que qualquer outro período de brevidade comparável. (…). A última parte do século foi uma nova era de decomposição, incerteza e crise, e , com efeito, para grandes áreas do mundo, como a África, a ex-URSS e as partes anteriormente socialistas da Europa, de catástrofe” (Hobsbawn, 1995,p.15).
    A modernidade trouxe a velocidade e a mudança: o que era clássico deixa de existir e tudo se transforma rapidamente. A arte, as máquinas, os aviões, o telefone e o telégrafo aceleraram a vida e desestabilizaram os pilares do pensamento. A teoria da Relatividade de Einstein, a Psicanálise de Freud, a arte de Picasso e de Dali, a eclosão da Revolução Russa, destroem todas as certezas que até então guiavam o mundo.
    O crescimento do capitalismo com a implantação da linha de montagem acelerou o processo de produção e de acumulação de capital, fazendo crescer o abismo entre aqueles que fabricavam os carros e as maravilhas modernas e aqueles que podiam utiliza-los. O mundo mudou irremediavelmente. E a velocidade desta mudança também aumentou, como mostra no documentário. Em 1931 muitas pessoas ainda não tinham luz elétrica; em 1960 o homem foi à lua.
    As guerras e a violência também se banalizaram, se tornaram fenômenos em grande escala. O documentário de Marcelo Masagão mostra o absurdo da guerra, da morte de soldados que, em uma praia, brincavam como meninos que ainda eram. Mortes ainda mais absurdas, pois em guerras imperialistas como foram as guerras mundiais, a guerra do Vietnã e tantas outras.
    Mas além disso, a vida também mudou: a mulher foi para o mercado de trabalho, a vida se viu facilitada pelos eletrodomésticos, o mundo entrou pelas casas através da televisão. O papel social da mulher, no entanto, ainda teve que ser questionado. A dupla jornada se impôs, mas não um duplo olhar de admiração. Os movimentos feministas cresceram, como também as reinvindicações de melhores condições de trabalho, horas de lazer, melhores salários.
    “A I Guerra Mundial significou o colapso da civilização ocidental do século XIX, uma sociedade centrada na Europa e exultante de sua superioridade, liberal na estrutura legal e constitucional, capitalista na economia e burguesa na imagem de sua classe hegemônica. Para esta sociedade, as décadas seguintes a I Guerra são de verdadeira catástrofe e desagregação. Durante quarenta anos, ela foi de calamidade em calamidade. Após a I, houve a II Guerra Mundial, rebeliões, revoluções que levaram ao poder um sistema que se dizia a alternativa para a sociedade capitalista e viram imensos impérios coloniais seculares ruirem em pó” (Hobsbawn, 1995, pg 16-17). Além disso, uma crise mundial sem precedentes colocou até mesmo as economias capitalistas mais fortes em situação crítica (1929). Enquanto as economias ruiam , as instituições da democracia liberal praticamente desapareciam entre 1917 e 1942. Em seu lugar, avançavam regimes autoritários, como o fascismo e o nazismo. “A democracia só se salvou, porque para enfrenta-lo houve uma aliança temporária e bizarra entre capitalismo liberal e comunismo: basicamente a vitória sobre a Alemanha de Hitler foi, como só poderia ter sido, uma vitória do Exército Vermelho. (…)Uma das ironias deste estranho século é que o resultado mais duradouro da Revolução de Outubro, cujo objetivo era a derrubada global do capitalismo, foi salvar seu antagonista, tanto na guerra quanto na paz, fornecendo-lhe o incentivo – o medo – para reformar-se após a II Guerra Mundial e , as estabelecer a popularidade do planejamento econômico, oferecendo-lhe alguns procedimentos para sua reforma.” (Hobsbawn, 1995,p.17)
    “Contudo, mesmo tendo sobrevivido – por pouco – ao triplo desafio da depressão, do fascismo e da guerra, o capitalismo ainda parecia enfrentar o avanço global da revolução , que só podia arregimentar-se em torno da URSS, egressa da II Guerra Mundial como superpotência. E no entanto, como agora podemos ver retrospectivamente, a força do desafio socialista global ao capitalismo era a da fraqueza de seu adversário. Sem o colapso da sociedade burguesa do século XIX na Era da catástrofe, não teria havido Revolução de Outubro nem URSS.” (Hobsbawn, 1995,p.17) A grande depressão de 1930 colocou o socialismo como uma alternativa para a crise do capitalismo que se vivia e foi o desafio do fascismo que fez da URSS o instrumento indispensável para a derrota de Hitler e, em conseqüência, uma das duas superpotências.
    O mundo começa a perceber seu absurdo, mas dele não se livra. Como explicar Serra Pelada? O que são aqueles homens, como formigas enlameadas, que sofrem tanto por ouro? E como explicar os outros homens, que deles compravam o metal tão precioso por quase nada e ainda os escravizavam com normas informais? Terá o mundo enlouquecido?
    Ao ver a sequência de fatos que “nós que aqui estamos…” nos apresenta, esta é a sensação que domina. A própria música que se repete interminavelmente e que permanece nos ouvidos após o final do filme, tem esta intenção de mostrar a loucura humana, a sua busca insana por poder e dinheiro e o envolvimento de personagens comuns, que fazem com sua vida esta história e dela nada levam. Este filme é quase uma seção de análise, um entendimento de que nossa vida é curta e cujo final é o mesmo para todos.

  19. magnoklein said,

    Resenha de

    Nós que aqui estamos por vós esperamos. Dirigido por Marcelo Masagão. 1998.

    Magno Klein Silva DRE 106015973

    História Contemporânea – Noite.

    Professor Ricardo Castro

    Rio, 29/09/08.

    Este filme é um documentário feito pelo brasileiro Marcelo Masagão em que se propõe fazer uma leitura do livro Era dos Extremos de Eric Hobsbawm em que é discorrida a história do século XX. O nome do filme trata de um dizer presente em cemitério do interior de São Paulo.

    Nós que aqui estamos por vós esperamos. Uma frase que parece sintetisar o pensamento apresentado na obra sobre todo o século XX. Momento de grande avanço tecnológico e científico, mas também de guerras e disputas de poder. De incremento das comunicações e do desenvolvimento de um processo de unificação do mundo – que por sinal vemos se acentuar agora, no século XXI -, mas também de banalização da violência e coisificação as ações, dos sentimentos, dos seres.

    O mundo parece feito em escala e se destacar disso para impossível. O ato de chamar a atenção para si parece por si só estar dentro de uma cadeia estrutural onde no final até nisso se torna-se mais um. Nos tornamos seres produzidos em série. Com sentimentos em série. Repetindo ações em série. O mundo – e o filme parece concordar com este ponto de vista – parece se rezumir em duas escalas: a escala pessoal, onde as histórias pessoais correm; e a escala estrutural onde tudo se parece com cópia, reprodução e dor.

    Quando todo o filme discorre sobre pequenas vidas e histórias que são reflexos dessa realidade maxi, mas que verdadeiramente estão mais próximas a nós vemos a tradução de nossas vidas. Essa sensação desagradável que sentimos durante o filme e até rotineiramente com a junção do momento singular e do momento geral.

    O filme resgata a capacidade da História de ser feita pelos homens. Mas também afirma: o homem produz a máquina e a máquina retransforma o homem. E é sobre isso que o filme quer falar. É a isso que se resume seu título e o letreiro acima da entrada do cemitério.

    Nós que aqui estamos por vós esperamos. Nós mortos fomos momentos singulares, tivemos nossas histórias, produzimos as ferramentas que produziram a história e esse bolo cósmico nos foi regurgitado e fez de nós muitas vezes pacientes de um movimento histórico.

    Vocês vivos que nos assistem daí e se sentem tão superiores por serem capzes de controlar sua história, se iludem. Não percebem como podem fazer simplesmente parte da grande roda. E se assim não forem, e se assim não perceberm, o tempo, regulador divino do impulso histórico, fará com que vocês – todos vocês – se reduzam ao fardo íntimo da decadência e da mecanização do cemitério. Local com poderes quase divinos de reduzir a todos a um produto de massa.

    A produção em série da história são seus mortos e o distanciamento das suas histórias. Elas ficam tão longes, que de repente parecem todas iguais, monótonas e vazias. Valerá a pena seguir a diante assim? Quando viver pode ser algo mais do que andar para esse cemitério fabril? Todos os heróis perdem para o tempo. Não há vitória sobre o esquecimento. Todos serão nivelados e por baixo.

    Vivemos em momentos em que se questionar sobre a modernidade não pode levar a nenhum lugar senão ao pessimismo. Todos os cemitérios foram sempre assim? Certamente que não, mas nossas vidas, ainda que tenhamos escapado do opaco século XX, não nos aproxima de nenhum outro modelo.

    Bibliografia

    BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Introdução: “Modernidade – ontem, hoje, amanhã”, p. 24-49.

    FALCON, Francisco José Calazans. O capitalismo unifica o mundo. In: REIS FILHO, Daniel et alli. O século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

  20. jmarcoscb said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
    CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
    Departamento de História
    Matéria: História Contemporânea
    Prof˚. Ricardo Castro
    Aluno: João Marcos da Cunha Barbosa DRE:104080003

    RESENHA: CHAPLIN, Charles. Tempos Modernos. Título original: Modern Times. Preto & Branco. Legendado. Duração: 87 min. Warner, 1936.

    O filme “Tempos Modernos” é o primeiro filme de Chaplin a utilizar efeitos sonoros, mas como esses efeitos são restritos a poucas cenas, “Modern Times” é considerado o último filme mudo de Charles Chaplin.
    Falando do autor Chaplin nasceu em 1889 na Inglaterra e morreu em 1977 na Suíça. Ator, diretor e roteirista, Chaplin deixou uma vasta obra filmografica dentre elas: “The great Dictator”, “A Woman of Paris”, “The Circus” e “Modern Times”, que contribuiu para consagrar Carlitos, o principal personagem de Chaplin.
    O filme de Chaplin aborda um período conturbado da historia americana, onde a Grande Depressão (1929-1941) causou grandes problemas na sociedade norte-americana, onde grande parte da população ficou desempregada e passando fome. Mesmo focando um período de grave crise, “Tempos Modernos” é uma comedia que aborda a vida do trabalhador industrial norte-americano e consegue sintetizar muito bem esse período histórico e catastrófico decorrente da queda da bolsa de Nova Iorque em 1929.
    A figura central do filme é o personagem Carlitos que consegue emprego em uma indústria, “transforma-se” em líder grevista e se apaixona por uma jovem. O filme foca a vida na sociedade industrial onde o sistema de linha de montagem é predominante e a especialização da mão-de-obra é obrigatória. Podemos dizer que o filme é uma critica a “modernidade” e também ao capitalismo que é representado pela industrialização.
    O enredo do filme aborda um operário (Carlitos) que acaba ficando stressado pelo seu trabalho repetitivo e acaba “perdendo” o juízo, com isso acaba sendo despedido e internado em um hospital. Ao sair do hospital, aparentemente curado, Carlitos encontra a fábrica que trabalhou fechada, e é preso por engano como líder comunista já que empunhava um pano vermelho, que tinha acabado de cair de um caminhão, em frente a uma manifestação grevista. Carlitos acaba sendo solto tempos depois por ajudar a policia na prisão de um traficante. Ao sair da prisão Carlitos acaba conhecendo uma jovem que passa fome e rouba para sustentar a família, encantado com a jovem Carlitos acaba assumindo um de seus crimes e novamente retorna a cadeia, mas rapidamente é solto já que a policia percebe que cometeu um engano. Apaixonado pela jovem a ajuda a fugir do camburão da policia e vão viver juntos. O operário acaba arrumando emprego como segurança de uma loja, mas rapidamente é demitido por não conseguir evitar um assalto e dormir em serviço. Logo em seguida Carlitos arruma emprego em uma fábrica mas em meio a uma greve é preso por desacato a autoridade. Carlitos acaba arrumando emprego em uma boate com a moça, mas novamente a policia vem atrás deles e eles fogem, marcando assim o final do filme.
    Podemos dizer assim que o filme de Chaplin marca a busca pela felicidade de seu personagem principal, além de demonstrar o desajuste de um típico trabalhador industrial da primeira metade do século XX com a modernidade burguesa. Podemos ver esse desajuste com a modernidade quando Carlitos é engolido pela maquina, demonstrando que operário e maquina tem uma ligação tão grande que ele passa a ser parte dela. Acredito que também podemos citar como desajuste a nova sociedade o fato de Carlitos não conseguir parar muito tempo no mesmo emprego mostrando um estranhamento com a nova sociedade insdutrial e que teve seu agravamento com a crise de 29.
    O sofrimento, tanto físico quanto mental do personagem é resultado do processo efervescente de industrialização. No final do filme vemos os personagens de Chaplin e Paulette Goddard caminhando em uma estrada, podemos interpretar essa cena como a fuga dos personagens dessa nova sociedade, marcada pela modernidade e industrialização.
    O filme de Chaplin é tido como uma tragicomédia que consegue muito bem demonstrar a sociedade norte-americana do inicio do século XX, mas contudo esse filme pode nos soar atual, já que ainda hoje os trabalhadores são ministrados pela ditadura do relógio e as maquinas estão mais do que nunca presentes em todos os setores.

  21. drikaadriana said,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
    Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – IFCS

    História Contemporânea FCH352 Prof.: Ricardo Castro

    Nome: Adriana Soares Ralejo DRE: 106032307
    5º período – Noite

    Entrega: 29 de setembro de 2008

    Resenha do filme Tempos Modernos (Modern Times) de Charles Chaplin

    O filme Tempos Modernos de 1936 representa um crítica usando-se a comédia para retratar a vida urbana da sociedade americana no período da Grande Depressão que o país sofre a partir de 1929 até 1941, caracterizado por tempos de desemprego em massa, fome, declínio industrial, causando conseqüentemente a queda do produto interno e das ações da Bolsa de Nova Iorque.
    Estrelado e dirigido pelo grande Charles Chaplin, em seu último filme que retrata os problemas da sociedade, o autor mais uma vez dá à vida ao seu clássico personagem, o anti-herói tragicômico Carlitos que vive um operário de uma grande indústria na primeira parte do filme, denunciando as condições de vida dos trabalhadores num sistema de produção fordista. O trabalhador não tem consciência do que é produzido na fábrica, realizando somente uma atividade repetitiva, sem muito tempo para descanso. Um exemplo disso é a cena que mostra a invenção da “máquina alimentadora” que propõe ao dono da fábrica um modo de aproveitar mais ainda o tempo de trabalho de seus empregados, não sendo necessário dar um intervalo para o almoço já que o trabalhador pode comer enquanto realiza seu trabalho eliminando-se desse modo o tempo morto (teoria taylorista). Nesse modo de produção capitalista há um grande controle sobre o funcionário que constantemente está sendo vigiado e cobrado para que faça seu serviço mais e mais rápido. Chega um momento do filme em que dá a entender que o trabalhador não tem mais valor e é engolido (literalmente também!) pelas máquinas, caracterizando essa era industrial.
    Essa ação de tratar o empregado como uma máquina incansável, como parte de do sistema, acaba levando o protagonista à loucura pela abstração de seu trabalho. Quando sai do hospício, a fábrica em que trabalhava fechou. O personagem é preso e, surpreendentemente, acaba se adaptando ao sistema da prisão, longe do mundo capitalista. Chegada a hora de sua liberdade por bom comportamento, o personagem se vê novamente perdido diante da realidade capitalista e não consegue se encaixar num emprego, já que está fora do ambiente das fábricas e do sistema de produção fordista. Ele tenta várias opções de emprego ao longo da história, mas uma mais diferente da outra. Tentou como ajudante em uma construção naval, vigia de uma loja de departamentos, auxiliar de manutenção de máquinas, garçom, e até showman. Com isso, neste momento, ele deseja voltar para a prisão, lugar em que voltou a encontrar a sanidade.
    Fazendo um paralelo a outras situações que vão acontecer no filme, a ação policial em si é um fator muito destacado, onde estão sempre repreendendo a sociedade contra qualquer manifestação (lembra-se que esta época emergiram diversos protestos e greves nas fábricas), sendo o próprio Carlitos preso novamente por ter sido confundido com um líder comunista, na cena em que balança a bandeira vermelha. Pequenos delitos também são motivos para tal como o roubo de um simples pão para matar a fome, sendo quase tudo motivo de dar ordem de prisão.
    Iniciando-se a nova fase do filme, surge uma nova personagem que vai fazer as idéias de Carlitos quanto à prisão mudarem. É uma menina órfã que, logo após a perda de seu pai, morto numa manifestação, e se suas irmãs, que vão para um orfanato, a menina, interpretada por Paulette Goddard, encontra Carlitos enquanto foge da polícia por roubar um pão. Enquanto ela tenta desesperadamente não ser presa, Carlitos quer exatamente o contrário assumindo até a responsabilidade pelo roubo. Mas vendo o desespero da pobre órfã, o protagonista se junta à ela para tentar construir uma nova vida.
    Essa nova etapa representa uma crítica às desigualdades na sociedade, onde a sociedade capitailsta explora o proletarado. A parte da loja de departamentos em que os dois se divertem por todo o estabelecimento com aquilo que eles não tem acesso em suas vidas normais mostra a realidade social deles. A cena em que os dois estão sentados num jardim sonhando com uma vida normal mostra o idealismo de vida capitalista para as família daquela sociedade. Então os dois tentam mais uma vez se adequar àquela sociedade e contruir uma vida nova.
    Em sua última tentativa de emprego, depois de voltar às fabricas e estas novamente entrarem em greve, Carlitos consegue como showman em um bar se encontrar no que sabe fazer (vez que o personagem desde criança era artista de circo) e poder fazer o que quiser, sendo ele mesmo. Mas, infelizmente, a polícia entra mais uma vez em ação através de detetives que tentam encontrar a menina órfã, e o casal protagonista consegue fugir dos policiais, e, juntamente, fugir daquela vida capitalista seguindo um caminho com nada à sua frente.
    Tempos Modernos, apesar de ser um clássico do cinema, causou em sua época muita polêmica chegando a ser proibido na Alemanha de Hilter e na Itália de Mussolini por ser considerado “socialista”. Aliás, nesse aspecto Chaplin foi boicotado também em seu próprio país na época do “macartismo”. O filme representa uma crítica à modernidade e ao capitalismo, denunciando as péssimas condições de trabalho dos industriais (grande carga horária, trabalho repetitivo e divisão do trabalho) e a desigualdade social. A história se insere num período que sofre as conseqüências da crise de 1929, gerando a falência de milhares estabelecimentos e desemprego em massa. O grau de miséria das camadas populares aumentos causando a fome generalizada. Aumenta a luta de classes, movimentos grevistas e a política social se aproxima cada vez mais do Partido Comunista, fazendo crescer cada vez mais o movimento operário. Chaplin consegue realmente passar uma mensagem social em que suas cenas conseguem representar claramente a sociedade em que viviam.

    Tempos Modernos é uma história sobre
    a indústria, a iniciativa privada e a
    humanidade em busca da felicidade.
    (Charles Chaplin, em frase no início do filme)

  22. flavinharv said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)
    Flavia Ribeiro Veras – 105030784
    Curso: História Contemporânea
    2º semestre de 2008/ Noturno
    Resenha do Filme “Nós que aqui estamos por vós esperamos”

    Estou sentado á beira da estrada,
    o condutor muda a roda.
    Não me agrada o lugar de onde venho.
    Não me agrada o lugar para onde vou.
    Por que olho a troca da roda
    com impaciência?

    Bertolt Brecht, “A Troca da Roda”.

    “Nós que aqui estamos e por vós esperamos” é um filme que fala por imagens. Marcelo Masagão consegue fazer escolhas iconografias e vídeos, utilizando de poucas passagens ou citações incisivas para seu discurso. Assim, faz o espectador refletir sobre o significado do século XX. Inspirado pela obra de Erick Hobsbawm “A era dos extremos”, nos mostra um “século curto” marcado por guerras e grandes transformações. Outro autor que o diretor assumiu ter sido fundamental para sua produção é Freud. As imagens embora coloquem as questões mais gerais são carregadas de subjetividade. O filme apesar premiado e muito badalado custou apenas cerca de cento e quarenta mil reais, foi produzido no Brasil e lançado no ano de 1998.
    Seu título foi tirado de uma inscrição da entrada de um cemitério no interior do Brasil, porém muito se fala que pode ser uma alusão à posição das mulheres que nos tempos de guerra vendiam sua força de trabalho à industria, enquanto os homens lutavam. As armas produzidas, sobretudo, pela força feminina alimentavam a guerra que embasava a práxis da disputa na modernidade nos ideais de intolerância e nacionalismo. O fim das guerras e o retorno as tropas teriam a expectativa de restaurar a ordem social devolvendo as mulheres à vida doméstica e os homens às fabricas. Porém, a conquista do espaço feminino no mercado de trabalho revolucionou os modos de vida e a noção de família, junto à esta questão temos o desenvolvimento da industria farmacêutica que desenvolvia métodos anticoncepcionais eficientes. Este foi o momento de grande ânimo para o movimento feminista, a mini saia, a queima de sutiens colocava para o mundo que o papel feminino na sociedade havia mudado.
    Não só as mulheres, o filme mostra o desenvolvimento tecnológico à serviço da guerra e do “bens estar social”. Esta tecnologia que se transfere para o mercado de consumo revolucionaria os hábitos sociais, como também teria um significativo recorte de classe. Multinacionais invadem o mercado de todo o mundo capitalista socializando gostos como no caso da coca-cola ou criam novas maneiras de estabelecer segmentos de classe como a televisão e a geladeira. A existência destes eletrodomésticos transforma a vida dos setores mais abastados a sociedade e da classe média, no século XX, por causa destes aparelhos, desenvolveu-se o acesso à informação, criou-se novos padrões para as artes, transformou-se o lazer e foi possível armazenar comidas perecíveis. Em setenta e cinco anos, se atribuirmos como marcos do século XX a Primeira Guerra Mundial (1914) e a queda do muro de Berlim (1989), o mundo sofreu transformação vertiginosa, por isso Hobsbawm o denomina de “o curto século XX”.
    As fotografias dos líderes políticos do século XX reconstroem memórias do nacionalismo em detrimento do internacionalismo. Mesmo o comunismo, com as figuras de Stalin e Mao, compartilha desta forma de ver o mundo, parecendo não concordar com o jargão leninista de “todo poder aos soviets”. Mesmo na URSS e na China, a busca pelo tecnicismo não conseguiu acabar com a alienação sobre o trabalho. A batalha entre o comunismo e o capitalismo seguia uma pauta comum, a guerra fria como o lema de “guerra improvável, paz impossível” colocava em questão o poderio nuclear e enquanto a tecnologia parecia que poderia criar qualquer coisa que o homem imaginasse, era também a possível causadora da destruição do mundo e da existência humana.
    É esse caos o produto da modernidade, as incertezas que contrapôs o homem ao tanque, no vídeo muito divulgado de Pequim, ou a ávicidade dos alemães em destruir o muro de Berlim, ilustram o cansaço do homem frente às ideologias totais. O filme consegue, com muita sutileza, ao mesmo tempo em que incita o expectador a pensar sobre o século XX, refletir sobre o que pode ter mudado. Logicamente, o filme, “Nós que aqui estamos por vós esperamos”, é produzido em um momento específico, contudo, as possibilidades de reflexão, inclusive a partir do paradigma comparativo, continuam em aberto.

  23. caschu said,

    Disciplina: História Contemporânea
    Professor: Ricardo Figueiredo de Castro
    Aluna: Caroline Schueler – 105030001

    Resenha do filme Tempos Modernos – 29.09.2008

    Em Tempos Modernos, filme lançado em 1936, o cineasta britânico Charles Chaplin convida o público a participar da experiência da moderna sociedade industrial da primeira metade do século XX. Através das aventuras do vagabundo Carlitos, a obra propõe um debate sobre as conseqüências da industrialização, tendo por respaldo alguns pontos da teoria do sociólogo alemão Karl Marx. As críticas permeiam toda a história, sem que o bom humor e a beleza sejam deixados de lado.
    Desde de o início, é possível perceber o viés adotado pela direção: a sobreposição de imagens entre um rebanho de ovelhas e trabalhadores dirigindo-se à fábrica estabelece a comparação entre esses dois grupos, ambos dóceis e passivos. O ambiente fabril fornece o arremate para a compreensão da realidade operária; bem como para os interesses econômicos envolvidos. Enquanto os funcionários são submetidos a extensas horas de trabalho repetitivo, o presidente da indústria monta um quebra-cabeça, lê jornal e dirige a produção.
    A influência marxista encontra-se nitidamente explicitada nas cenas desse núcleo; o trabalho é apresentado como extenuante, mecânico e alienante. O operário, desprovido de raciocínio, desempenha sua função de modo destorcido: aperta parafusos, mas também botões de roupas e até narizes. Ao mesmo tempo, a atenção é chamada para a constante busca pela otimização da produção e o uso de novas tecnologias; representados pela “Máquina Alimentadora”, capaz de alimentar os funcionários enquanto trabalham, eliminando, assim, o horário de almoço e aumentando a produtividade.
    No segundo momento da história, assiste-se à conturbada relação entre “o vagabundo” e a prisão, classificada por ele como um lugar de felicidade . Desempregado e sem perspectiva de vida, encontra na cadeia a possibilidade de sobrevivência; o que explica suas múltiplas tentativas de regressar a ela. Em uma dessas circunstâncias, Carlitos conhece o segundo personagem de destaque do filme – a jovem órfã criada no porto, que se nega a passar fome.
    Juntos eles desenvolvem uma das cenas mais interessantes: sentados na calçada, sem destino, presenciam a despedida de um típico casal americano; o homem, ao trabalho e a mulher, ao lar. Imaginando-se na mesma situação, satirizam a noção de felicidade da sociedade de consumo através de uma vaca que fornece leite sem precisar ser ordenhada. O desejo de partilhar da mesma alegria impulsiona os personagens: “Teremos uma casa assim, nem que eu tenha que trabalhar por ela” . Ainda que penoso e degradante, o trabalho é vinculado a um mal necessário na busca pelo bem-estar.
    O novo emprego conquistado por Carilitos funciona como mais um golpe contra a mentalidade da época. Como vigia noturno em uma loja de departamentos, ele e sua companheira comem, brincam e vivenciam todos os prazeres que o consumo é capaz de proporcionar. Contudo, com a invasão da loja por ladrões, um novo contraste é imposto ao telespectador. Um dos assaltantes, um antigo colega da metalúrgica, alega não ser ladrão; ele apenas tem fome. Nesse ponto, Chaplin registra seu ponto de vista: criminalidade como reflexo da exclusão social.
    Oscilando entre prisões e empregos, o vagabundo chega ao final do filme experimentando a felicidade como cantor de um clube. Diferentemente de seus trabalhos anteriores, nesse ele sente-se satisfeito e reconhecido.Entretanto, o modo de produção capitalista determina normas rígidas de comportamento, das quais nem sempre é fácil escapar.
    Novos dissabores acometem o casal; mais uma vez são obrigados a fugir, lançando-se num mundo de incertezas. Mesmo cansados da vida errante e duvidosos quanto ao futuro, eles não desistem de tentar – a metáfora de uma longa estrada como a esperança em um novo começo, ao som de Smile.
    O anti-herói Carlitos representa o homem em seu esforço de entender e se encaixar nessa nova realidade chamada modernidade. Em Tempos Modernos, Chaplin utiliza o cinema como revelador do mundo e define sua função social. No entanto, é preciso ter em mente que um filme histórico é a interpretação da história, ou seja, a sensação de testemunhar os eventos é meramente ilusória. Segundo Peter Burke, “antes de estudar o filme, você deve estudar o diretor” , para que suas intenções possam ser apreendidas com clareza.
    A atualidade da obra de Chaplin traz à tona um relevante debate sobre a modernidade em ininterrupta expansão e sua capacidade de se autotransformar. Mesmo sete décadas após o lançamento do filme, suas críticas continuam viáveis, enquanto a sociedade vence suas barreiras em ritmo lento. Não se tratam de barreiras relacionadas à produtividade ou à tecnologia, mas daquelas referentes aos seres humanos e suas relações interpessoais.

    Bibliografia
    ·BURKE, Peter. “Narrativas Visuais”. In Testemunha Ocular – história e imagem. EDUSC, Editora da Universidade Sagrado Coração.

    Filmografia
    ·Modern Times (EUA, 1936, 87 min, Continental Home Video. Direção: Charles Chaplin).

  24. andreaforti said,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
    Departamento de História
    Disciplina: História Contemporânea (noite)
    Professor: Ricardo Figueiredo de Castro
    Aluna: Andrea Siqueira D’Alessandri Forti – 5º Período
    DRE: 106076628
    Resenha do filme “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” – data de entrega: 06 de outubro de 2008.

    RESENHA DO FILME “NÓS QUE AQUI ESTAMOS, POR VÓS ESPERAMOS”

    “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” (1998) é um filme de Marcelo Masagão. Utilizando a obra de Eric Hobsbawn (“A Era dos Extremos”), os fundamentos da psicanálise freudiana, imagens de arquivos e extratos de documentários, o cineasta faz uma retrospectiva das principais características que marcaram o século XX, retratando personagens famosos e homens comuns que também fizeram a história deste século. Ao invés de uma narrativa contínua e linear, utilizou a justaposição de imagens e seqüências fragmentadas. Não possui falas, mas música e poucos textos.
    Hobsbawn diz que a visão das pessoas sobre o século XX é de um tempo de guerras e massacres como nunca se viu em outro período da história. O processo de esquecimento do passado faz a humanidade esquecer que este passado deixou um presente com as conseqüências. Por isso, na primeira cena, Masagão afirma que “o historiador é rei” (in MASAGÃO, 1998). Ou seja, enfatiza a idéia do não esquecimento e a importância do nosso trabalho.
    A proposta do filme é discutir a banalização da morte e, conseqüentemente, da vida, os antagonismos do século XX (em diferentes lugares do mundo) e a busca da individualidade frente a grandes números estatísticos. Já nas primeiras imagens é apresentado uma das grandes contradições do Capitalismo. Primeiramente, máquinas em processo de produção industrial, pessoas trabalhando ou andando nas ruas, e o primeiro automóvel a ser produzido em série, o Ford T. Mostra um homem que trabalhou na produção do Ford T durante anos e fecha com uma frase: “Nunca teve um Ford T”. Resumindo, esta pessoa ajudou a construir muitos automóveis, fazia parte direta da produção, mas nunca teve dinheiro para adquirir um.
    São incontáveis as contradições que marcaram o século XX e também são muitas aquelas mostradas no filme, mas algumas são constantemente apresentadas. Assim como a produção em massa de produtos, para Masagão, este século é o da produção em massa da morte. Analisando isto, pode-se chegar a duas idéias. A primeira fica evidente em um dos poucos textos que aparece: “Numa guerra não sem matam milhares de pessoas. Mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias…” (in MASAGÃO, 1998). Neste trecho fica evidente a busca do cineasta pela individualidade frente às estatísticas. As perguntas são: Como alguém pode pensar em pessoas mortas apenas como estatística? Por que ninguém pensa nos pais dos jovens que morreram nestes conflitos? No sofrimento de ambos, nos sonhos não realizados, nas vidas que foram tiradas? Por isso, ao longo do filme, Masagão mostra alguns soldados com suas respectivas datas de nascimento e morte e alguma característica particular. Por exemplo, uma carta de um jovem para seus pais, dizendo que não via sentido naquela guerra, mas que sentiria vergonha se não estivesse ali “ajudando” e o que queria era que tudo acabasse logo para poder voltar a casa.
    A outra idéia seria o fato de a humanidade ter se desenvolvido tanto em relação à tecnologia, à Ciência e várias outras coisas, mas ao mesmo tempo, o respeito pelo próximo, pela vida só diminuiu. Como pode uma evolução tão grande de um lado e uma involução na mesma proporção do outro? Isto fica evidente durante a Guerra Fria, quando a competição entre as duas potências, EUA e URSS, quase acabou com o mundo, quando a vida de todos podia acabar em segundos com o apertar de um botão. “O homem constrói as ferramentas, as ferramentas reconstrõem o homem” (in MASAGÃO, 1998), o poder reconstrói o caráter do homem.
    A modernidade trouxe a mudança e tudo de maneira muito intensa e muito rápida. A arte de Pablo Picasso e de Marcel Duchamp, a psicanálise de Freud, a teoria da relatividade de Einstein, a Crise de 1929, a URSS, a ida ao espaço destruíram as certezas que guiavam a humanidade (pelo menos, a Ocidental).
    “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” é a frase que Masagão encontrou no portal de entrada de um velho cemitério. Esta sentença nos devolve o senso de humildade que marca a proposta do filme, evoca a fragilidade e os limites da condição humana, um contraponto às ambições do século XX e a sua modernidade: a morte chega para todos. A frase opera como um feixe que conecta todos os fragmentos, transportando o espectador para dentro daquele mundo como mais uma memória que irá se somar a esse painel dramático.

    REFERÊNCIAS:

    – HOBSBAWN, Eric. A Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

    – MASAGÃO, Marcelo (direção, produção, pesquisa e edição). Nós que aqui estamos, por vós esperamos. Consultoria em História: José Eduardo Valadares e Nicolau Sevcenko; Música: Win Mertens. DVD (73 min). Cor/P&B. 35 mm. Dolby SR. Brasil, 1998.

  25. diogenes20082 said,

    Aluno: Diógenes Crispino
    DRE: 105088973

    Resenha do filme Tempos Modernos

    “Tempos Modernos” (Modern Times, 1936), filme de Charles Spencer Chaplin nos mostra toda a genialidade de Chaplin e nos serve como fonte de interpretação não somente das marcas do avanço do capitalismo industrial e seu desenvolvimento, assim como possibilidade de compreensão do contexto norte-americano no posterior da crise de 1929, e da ascensão do New Deal e do conjunto político implementado por Franklin Delano Roosevelt.
    “Tempos Modernos”. Uma história da indústria, da iniciativa individual – humanidade lutando em busca da sua felicidade*.

    Com esta frase se inicia um dos mais aclamados filmes da história do cinema: “Tempos Modernos” (Modern Times – 1936). Concebido, dirigido e protagonizado por Charles Chaplin, ele é lembrado pela música tema – Smile – cuja composição é também de Chaplin, e por ser a última aparição na tela do vagabundo (Carlitos, nos cinemas brasileiros), personagem que Chaplin tornou inesquecível.
    Este filme, juntamente com outras produções de Chaplin como “O Garoto” (The Kid – 1921) e “O Grande Ditador” (The Great Dictator – 1940), também é lembrado por seu discurso político-social. Em “Tempos Modernos” se expressa a crítica que Chaplin promove à sociedade moderna capitalista industrial, e às relações sociais forjadas por esta sociedade.
    Após a frase citada inicialmente, a imagem de um bando de ovelhas tosquiadas (entre elas uma negra) é seguida de outra que apresenta uma massa de operários que se dirige apressadamente às fábricas. Ao seqüenciar tais cenas, Chaplin aponta o caráter pasteurizador e alienante da sociedade industrial, para a qual o operário ideal é exatamente o que se comporta como gado, ou seja, cumpre sua função, se deixa comandar e não questiona esse “tanger” e/ou seu “tosquiar”.
    Em seguida é apresentada a fábrica em suas atividades internas. O controle que o empresário tem de sua indústria se configura através da “ficção científica chapliniana”. O industrial exerce o controle do espaço da fábrica e dos seus funcionários por meio de um futurístico sistema de circuito interno de vídeo, que na época não existia. A onipresença do patrão é de um nível absurdo, se fazendo sentir inclusive no banheiro dos empregados, através de um grande telão. Chaplin parecia prever o uso da tecnologia no controle do homem pelo homem.
    Neste momento o público entra em contato com o protagonista, o “eterno vagabundo”, na figura de um operário que, na linha de montagem da fábrica, exerce o repetitivo trabalho de apertar porcas em placas que deslizam na esteira a sua frente. Junto com ele estão outros operários que, cumprindo outras funções na linha de montagem, procedem do mesmo modo repetitivo e extenuante.
    Qualquer atraso por parte de algum membro da linha de produção repercute nas tarefas daqueles que lhe são subseqüentes. Esta situação específica é mostrada de modo cômico. Usando o humor, Chaplin chama atenção para as condições de trabalho do operariado. As idéias de administração científica, que enfatizavam a divisão do trabalho e a especialização do operário (leia-se, saber desempenhar uma única tarefa repetidamente e por tempo prolongado), desenvolvidas por Frederick Taylor, e a criação e desenvolvimento da linha de produção, criada pelo empresário Henry Ford, deram uma nova conformação ao modo como o trabalho era realizado em nível fabril (LIMONCIC, 1999, p. 129-130).
    O estresse físico e mental causado por este repetir de movimentos sendo executado por horas a fio é também apresentado pela via da comédia. Fora da linha de montagem, durante a pausa da troca de turnos, ele continua a fazer os mesmos movimentos como se lá ainda estivesse.
    A cena em seguida se passa na sala do industrial. Um “vendedor mecânico” apresenta ao empresário um inventor e sua obra, uma máquina que possibilitaria que o operário se alimentasse enquanto trabalha, sem deixar a linha de produção. Ou seja, o almoço, visto como tempo ocioso, seria eliminado, otimizando a produção.
    Promove-se um teste do aparelho, e o protagonista é escolhido como cobaia. No entanto a máquina entra em pane, e, em uma das seqüencias mais antológicas da história do cinema, o “vagabundo” é “surrado” pela geringonça, levando sopa e torta pela cara. Preso à máquina, é visto como parte dela pelos técnicos, que tentam consertá-la, sendo desse modo desumanizado. Liberado ele retorna ao seu trabalho (sem almoço).
    O industrial ordena um aumento de velocidade na linha de produção. A pressão do ritmo de trabalho leva o protagonista a um choque nervoso. Esse surto é outro momento singular, no qual o “vagabundo” é literalmente engolido e regurgitado pela engrenagem industrial. Em seu surto ele provoca o caos na fábrica. Dominado, é levado e internado para tratamento.
    Chaplin, ao apresentar o universo industrial, elabora uma sátira inteligente às técnicas modernas, usadas pela sociedade capitalista industrial, na qual as máquinas substituem a mão-de-obra, e os operários são “coisificados” e marginalizados. Em relação à supervalorização da tecnologia, Chaplin aponta para o que Hans Jonas escreveria quarenta anos mais tarde. Ao levantar a questão do homem ‘faber’ se sobrepondo ao Homo sapiens, Jonas aponta para a “autonomizaçao” da tecnologia, como se esta tivesse um fim em si mesma, se explicando e se autojustificando. Ou seja, a tecnologia tornando o futuro possível como obra dela, de modo autônomo àquela que a concebeu – a ação humana.
    O fato de o filme ser parcialmente sonoro é relevante na construção da sátira. Quem efetivamente fala no filme são as máquinas. O industrial só “fala”, quando se dirige aos seus funcionários através dos telões. As cenas em que ele interage diretamente com outros personagens são mudas. Outros exemplos são o “vendedor mecânico”, uma vitrola que apresenta o inventor, este último não emitindo uma só palavra, e o rádio em outra cena do filme.
    Chaplin não se preocupa em mostrar o que a fábrica produz de fato. Seu foco são as condições alienantes e extenuantes do modo de trabalho na indústria, e as condições aviltantes daqueles alijados das benesses da sociedade capitalista. O vestuário tem essa função de denúncia em “Tempos Modernos”. Na fábrica, de aspecto moderno e asséptico, os operários andam sujos, suados, trajando camisetas ou com o torso nu, em flagrante contraste com o industrial e os funcionários do escritório.
    No ambiente externo à indústria, a roupa do “vagabundo” juntamente com os trajes maltrapilhos da jovem órfã (interpretada pela esposa de Chaplin na época, Paulette Godard), apontam para a parcela dos excluídos, para aqueles mais duramente atingidos pela Grande Depressão. A mocinha se tornaria o interesse romântico (talvez mais paternal que romântico?) do protagonista.

    Ao deixar o hospital, e sem emprego, o “vagabundo” torna-se, para a sociedade apresentada no filme, um vagabundo. Confundido como líder comunista de uma passeata, simplesmente por estar carregando uma bandeira vermelha que tinha caído de um caminhão, ele é preso. Liberado, parece não se ajustar à vida em liberdade, tanto que busca voltar para a prisão.
    A jovem maltrapilha e suas irmãs menores, já órfãs de mãe, perdem o pai, morto em um conflito entre a polícia e uma manifestação de desempregados. Sendo muito jovens, o Estado fica com a guarda das meninas, mas a mais velha (Paulette Godard) foge dos funcionários do governo, passando a vagar pelas ruas em busca de comida e abrigo.
    Ao som da música Smile, composta por Chaplin, o casal protagonista passa a contracenar mais amiúde. Sem lar, dinheiro ou trabalho, imaginam-se morando em uma bonita e modesta casa. “Teremos uma casa, mesmo que eu tenha que trabalhar por ela”, declara a personagem. A casa torna-se, então, o objetivo. Na época de produção de “Tempos Modernos”, a Grande Depressão, que ocorreu após a crise de 1929, estava começando a ser combatida pelo conjunto de programas – o New Deal – implementados nos Estados Unidos, no governo do Presidente Franklin Delano Roosevelt. Tal conjunto tinha como objetivo recuperar e reformar a economia norte-americana, atuando inclusive na questão trabalhista (LIMONCIC, 1999, p. 129-130). Com a crise muitos perderam seus empregos, suas economias, suas casas, e entre estes, alguns viviam, como a órfã do filme, na mais extrema miséria.
    Oportunamente o protagonista consegue emprego, como vigia noturno, em uma grande loja de departamentos. O trabalho atende às necessidades e ao sonho do casal. Ele tem um trabalho, e ela um lugar para dormir, pelo menos até o horário de abertura da loja. E com o trabalho, a casa.
    Chaplin faz do espaço do consumo um espaço para a comédia, sobretudo ao usar patins para fazer sua ronda noturna. Por dormir em serviço é despedido, mas é momentâneo. Ele retorna à fábrica onde trabalhava, exercendo uma nova função. O sonho da casa torna-se possível novamente. Entretanto, o contexto da época se faz sentir: greve. A fábrica fecha enquanto durar o movimento. Ferindo acidentalmente um policial no conflito entre grevistas e a polícia, o protagonista é preso novamente, sendo solto uma semana depois.
    Nesse ínterim a jovem órfã conseguiu trabalho como dançarina. Através dela o “vagabundo” consegue se empregar como garçom no mesmo bar onde sua companheira dança. Nesta seqüência ele canta. Pela primeira vez em um filme se ouve a voz de Chaplin. O som é acessório ao gestual. As palavras nada significam. É o gesto que lhes parece dar sentido.
    O Estado consegue chegar até a jovem órfã. No entanto, o casal consegue fugir. Novamente sem trabalho, sem um teto, ela começa a também ficar sem esperança. Mas ele a anima com seu otimismo contagiante. Ao som novamente de Smile, eles caminham confiantes, sorridentes pela estrada que se estende ao horizonte – metáfora da vida – em mais um recomeço. Na cena final, de costas para o público, o “vagabundo” dá adeus as telas, indo na direção do infinito.
    Chaplin contrapõe o casal de excluídos a todo um mundo industrial, tecnológico, classista e consumista. Ele critica, satiriza e denuncia o abismo social que alguns colocaram como natural – Darwinismo Social – sendo a riqueza de um indivíduo e o modo como ela foi amealhada frutos de uma aptidão naturalmente mais desenvolvida nesse indivíduo que nos demais. Assim sendo, sua riqueza é tão somente a conseqüência natural da “sobrevivência do mais apto”, materialização de sua “excelência biológica” (GALBRAITH, p. 148).
    O som usado no filme tem sentido diverso das produções contemporâneas a ele e mesmo as posteriores. Chaplin acreditava que o modo de representar do cinema mudo tinha alcançado tal grau de comunicação, que dispensava a fala. Mas em uma sociedade capitalista o consumo é de extrema relevância, e a demanda então era o som. A sociedade de consumo, que já se verificava, demandou a experiência sonora.
    Em “Tempos Modernos”, ao criticar a mecanização, ao apontar para a opressão do Homo faber sobre o Homo sapiens, ao não se render ao consumismo do som, Chaplin aposta no ser humano, na iniciativa e determinação humanas ante as adversidades. Na cena final, otimista, o “vagabundo” Carlitos deu o seu adeus ao público. Chaplin e seu inesquecível personagem se configuram como as “ovelhas negras” de um rebanho que caminhava sem saber para o abatedouro. Os anos que se seguiram pareceram justificar a despedida do “vagabundo” de um mundo, no qual a noção de humanidade seria aviltada a níveis inéditos, com a produção em série do extermínio, na qual ciência e tecnologia seriam seus aspectos sensíveis. O mundo escurecia tal qual a sala de projeção ao final do filme. A escuridão se fez na sala ao som da ultima nota de Smile. A trilha sonora do mundo seria, a partir daí, dada pelas “notas” da Segunda Guerra Mundial.

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    GALBRAITH, John K. O pensamento econômico em perspectiva – Uma história crítica. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, s/d. pp. 52-213.

    LIMONCIC, Flávio. Do pacto nacional á globalização: Estado e sindicato na regulação do capitalismo norte-americano. REVISTA DE HISTÓRIA REGIONAL. Universidade Estadual de Ponta Grossa, vol. 4 Nº1, verão 1999. pp. 129-146.

  26. diogenes20082 said,

    Aluno: Diógenes Crispino
    DRE: 105088973

    Resenha do filme “Nós que aqui estamos por vós esperamos”

    O documentário “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”, dirigido por Marcelo Masagão e lançado no Brasil em 1999, é uma memória do século XX.
    Aborda a industrialização do mundo – ou das partes que passaram pelo processo de modernização industrial – trata da alienação dos trabalhadores que se transformaram em peças da engrenagem capitalista. Mostra regimes totalitários, religiões, em suma, humaniza e contextualiza a história do século passado.

    Masagão fala da mudança nas formas de comunicação após o advento do telefone, da energia elétrica, do rádio. Mostra a evolução da independência feminina ao longo do século, a produção em série de utensílios domésticos e carros.

    Relembra a queda do Muro de Berlim, a violenta Revolução Cultural na China dos anos 70, sob os pés de Mão Tsé-Tung; a extração aurífera em Serra Pelada, no Brasil; a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, e o inevitável desemprego da população, a fome, a perda da dignidade e a inutilidade dos diplomas dos letrados da época.

    A dissipação de famílias e sonhos nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, devastadas pelas bombas atômicas; cita intelectuais, cientistas, escritores subversivos que tiveram seus livros queimados em praça pública por soldados nazistas.
    A solidão e a injustiça das guerras. Traumas, humilhações, desespero, protestos, suicídios e ilusões.

    Chefes de Estado como Stálin, Hitler, Pol Pot, Franco, Pinochet, Médici, entre outros, que causaram a morte de milhões de pessoas, motivados pelo que o autor chama de paranóia, são apresentados de forma clara e sem filtros.

    A arte mostra a nudez de várias formas, de Duchamp a Munch, os artistas expressam a igualdade entre os sexos, que é exaltada e passa a ser valorizada. Religiões como o Islamismo, o Judaísmo, o Hinduísmo e o Candomblé são abordados como formas de buscar a Deus e Masagão “choca” o espectador ao mostrar uma criança “em alguma esquina do hemisfério sul”, a espera de Deus. Abandonada, indefesa, e ainda assim, viva.

    Recorda a paz budista de Mahatma Gandhi, no Tibet, que venceu resistências imperialistas sem dar um tiro sequer.

    Nós que aqui estamos por vós esperamos é a frase que o diretor Marcelo Masagão encontrou cunhada no portal de entrada de um velho cemitério. É esta sentença que nos alerta, ou melhor, que nos devolve o senso de humildade, que marca a proposta do filme, que é a de discutir a banalização da morte e, por extensão, a banalização da vida. No filme quase não há palavras, pois o filme constrói-se de breves momentos do século XX perpetuados pelo registro perspicaz, ou apenas incidental, de velhas câmeras e anônimos cineastas do acaso. Uma profusão de imagens que se sucedem, envolvem-nos em uma trama fortuitamente tecida e que desafiam àqueles que crêem no plano da vida, na linearidade dos acontecimentos. Imagens que nos transportam da dor, do sentimento de vergonha em relação ao ser humano, ao encantamento, ao deslumbramento, pois é humano, e sempre “demasiadamente humano”, o ódio e o amor.

    Ficha do filme Nós que aqui estamos por vós esperamos
    Título original: Nós que aqui estamos por vós esperamos
    Título em inglês: Here We Are Waiting for You
    Tempo de duração: 73 min
    País: Brasil
    Idioma: Português
    Cor: Preto e Branco / Colorido
    Diretor: Marcelo Masagão
    Roteiro: Marcelo Masagão
    Gênero: Documentário

  27. peixotopvs said,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
    Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – IFCS
    Aluno : Pedro Vieira da Silva Peixoto
    DRE: 106027190
    Professor : Ricardo Castro
    Disciplina : História Contemporânea FCH (352)
    RESENHA DO SEGUNDO FILME :
    “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”
    Postada em http://www.historiacontemporanea.wordpress.com em 5 de Outubro de 2008

    O filme brasileiro “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” apresenta-se basicamente como uma crítica inteligente à sociedade do século XX. Ao contrário de contar uma história una e contínua sobre um único assunto, o filme exibe diversos fragmentos sobre diferentes acontecimentos que não possuem ligação entre si.
    Acreditamos que tal recurso cinematográfico tenha sido utilizado justamente como um mecanismo possível de se destacar o aspecto turbulento, incoerente, corriqueiro e caótico da contemporaneidade. Alguns dos temas tratados, portanto, são: a dissipação de famílias, os sonhos nas cidades, a solidão e a injustiça das guerras, as humilhações, o desespero, os traumas, os protestos, os suicídios e as ilusões. O diretor dá uma volta ao mundo passando inclusive por guerras, dirigindo o olhar para a conseqüente banalização da vida e da morte.
    A narrativa do filme é tramada nessa imprevisível dialética entre pressões estruturais, decisões individuais, desejos, pavores e projeções subconscientes, tensões sociais e polifonia de vozes que dão forma e expressão às conjunturas.
    Tal como o filme de Chaplin, este também trata da alienação dos trabalhadores que se transformaram em peças da engrenagem capitalista. O filme nesse sentido humaniza e contextualiza a história do século passado, destacando seus principais aspectos. Podemos ainda chamar a atenção para o fato de que não há nenhum tipo de narrador, apenas a reunião de figuras e palavras que se encaixam nos fatos históricos, reais e ficcionais. As imagens são documentos históricos que relatam a vida de pessoas anônimas em seu cotidiano e, a partir delas, o diretor dá nova existência, profissões, nomes e atividades aos seres retratados.
    O fato de o filme também não possuir personagens principais pode, talvez, ser entendido como mais uma forma de se chamar atenção dos telespectadores para a minimização das ações pessoais e subjetivas causadas pelo século XX.
    Nesse sentido, indiretamente, podemos, inclusive, fazer uma ponte com a discussão do próprio sentido de História: a grande alteração trazida pelo século XX seria, assim, uma História não mais centrada em grandes personagens, mas em indivíduos e cidadãos comuns, nas massas, nos desejos humanos, nas mentalidades, na própria cultura.
    De certa forma, ao discutir a banalização da morte, podemos, igualmente, argumentar que o filme também fornece, implicitamente, uma inteligente crítica à banalização da própria do século XX.
    O enfoque dado ao dia-a-dia, ao corriqueiro, ao banal, ao diário permite com que o filme analise um dos temas mais importantes da contemporaneidade: o cotidiano . . .
    Pelas histórias que conta e pelo modo como é desenvolvido, em momento algum o filme permite que o espectador sinta-se indiferente ao que assiste. A temática, portanto, que é trazida e apresentada diz respeito ao nosso mundo e afeta diretamente a todos que vivem nos dias atuais; a realidade que em linhas gerais é discutida e pensada é a mesma que em boa parte é vivida por nós.

  28. marinagerasso said,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro
    Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
    Departamento de História
    Disciplina: História Contemporânea
    Professor: Ricardo Castro
    Aluna: Marina Gerasso – 105032930

    Resenha do filme “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” de Marcelo Masagão

    Ficha técnica:

    Título Original: Nós Que Aqui Estamos por Vós Esperamos
    Gênero: Documentário
    Duração: 73 min.
    Lançamento (Brasil): 1999
    Distribuição: Riofilme
    Direção: Marcelo Masagão
    Roteiro: Marcelo Masagão
    Música: Wim Mertens
    Edição: Marcelo Masagão
    Efeitos sonoros: André Abujanra
    Consultores de História: José Eduardo Valadares e Nicolau Sevcenko
    Consultoras de Psicanálise: Andrea Meneses Masagão e Heidi Tabacov
    Consultores Espirituais: Dr. Sigmund Freud e Dr. Eric J. Hobsbawn
    Consultoria de informática e computação gráfica: Mauricio Mendes

    O filme “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” se insere no gênero documentário a partir de uma forte narrativa que se propõe a construir a memória do breve século XX tendo como ponto de partida a idéia de massa, mas individualizando em alguns personagens exemplares dos momentos tratados pelo filme, resgatando o valor da vida individual e, sobretudo, a figura do trabalhador em todo o mundo.
    Logo no início, o autor já demonstra como vai construir seu discurso, sem narrador, através da frase: “Pequenas histórias, grandes personagens”. Mas antes de começar a passar por vários destes personagens, há uma introdução que se centra em “ No dia seguinte, o balé já não era clássico”. Nesta frase podemos identificar a intenção do autor em inserir a relação entre tempo e modernidade, que vem se alterando freqüentemente acompanhando as mudanças promovidas por avanços na ciência e no desenvolvimento de novas tecnologias. Essa passagem dialoga bastante com Marshall Berman que a partir da idéia de massificação discursa sobre a maneira com a qual a modernidade capitalista traz transformações na cultura humana.
    Mais adiante se inicia um percurso que atravessa o século XX utilizando-se de “pequenas histórias” que mostrarão de certa maneira como o tempo e as mudanças promovidas por ele alteram as sociedades e o mundo em que vivemos. Assim, a primeira passagem relacionada ao tal apontamento trata-se do trabalhador Alex Anderson que, em 1913, atuava como operário em uma linha de montagem do Ford T, em Detroit. Alex trabalhava cerca de 22 horas por dia e nunca pôde comprar o carro que ajudava a produzir. Uma passagem posterior do filme mostra em 1903, um grupo de trabalhadores do metrô, com 8 horas de trabalho, 8 horas de lazer e 8 horas de descanso, mostrando a possibilidade de um trabalho digno e que respeite o trabalhador. O autor denuncia a exploração abusiva trabalho feminino e a opressão sobre o trabalhador em vários pontos do mundo.
    Ainda na temática do trabalho, algumas passagens importantes como o trabalho na construção do muro de Berlim, os trabalhadores em Serra Pelada atuando nas minas, cenas de trabalhadores na Índia, China, Argentina, Japão. Em seguida, novamente mais denúncias sobre as atrocidades do século XX: o exemplo de um trabalhador chinês que executou três professores durante a Revolução Cultural e o caso da crise de 1929 no qual um engenheiro atingido pela recessão ainda não superada totalmente em 1955, trabalhava como vendedor de maçãs.
    Após uma narrativa a partir da figura do trabalhador, o filme continua sua estratégia de utilizar-se de casos particulares para exemplificar acontecimentos por todo o mundo só que mostrando o cenário da guerra. O diretor inicia esse segundo momento com o caso do casal Hans e Anna, durante a Primeira Guerra Mundial. Enquanto nas fábricas Anna ajudava a fabricar bombas, Hans atuava diretamente na Grande Guerra jogando-as no campo de batalha. Uma seqüência de bombardeamentos busca demonstrar o impacto de seus efeitos na guerra.
    O filme trabalha também com a figura da mulher, a conquista de seu espaço na sociedade durante o século XX e a liberalização dos costumes femininos. O movimento das sufragetes nos anos 20 na tentativa de conquista do voto feminino e a queima de sutiãs demonstra a crescente atuação política da mulher no cenário contemporâneo. Cenas do primeiro maiô, da mulher fumando, atuando nas artes como a dança, poesia, música e moda demonstram essa forte e crescente participação. Há certo destaque também para o trabalho da mulher na indústria bélica sob o lema “We can do it”em vários países envolvidos nos dois conflitos mundiais como a França, Inglaterra, Rússia, Japão e Estados Unidos. Uma crítica contundente do filme mostra as mulheres no pós-guerra voltando para o trabalho no lar.
    Uma temática também abordada com mérito pelo filme é a questão da religiosidade. A partir da frase “Perto de Deus, perto de…”, Marcelo Masagão passa por religiões de todo o mundo a exemplo das metáforas do muro para Jerusalém, de Alah para Meca, dos Orixás para Angola e do vento para a Índia. Em seguida, o autor novamente explicita o caráter de denúncia do filme mostrando um campo de batalha sendo abençoado (“Perto de Deus, perto do inferno”) e no hemisfério sul, um menino de rua “à espera de Deus”.
    É interessante resgatar que o filme intercala os momentos retratados com imagens de cemitério. Essas imagens ficam entendidas quando notamos o diálogo existente entre elas e o nome do filme. “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” está escrito na porta de um cemitério que é mostrado no final do filme e que denota uma época em que a percepção de morte era diferente, por ser mais presente do que na sociedade contemporânea. Possivelmente, a intenção do filme seja nos mostrar que passamos por muitas guerras, espoliações e explorações durante todo o século XX. Dessa maneira, torna-se um pouco paradoxal como tratamos a morte ainda com tanto espanto, mesmo vivendo em um período marcado tão fortemente pela presença dela.

    ¨ Filmografia
    “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” de Marcelo Masagão. Riofilme. 1999.

    ¨ Bibliografia
    BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo, Companhia das Letras, 2007. Introdução: “Modernidade – ontem, hoje e amanhã” p.24-49.

  29. sergioverdan said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAS
    DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
    DISCIPINA: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
    PROFESSOR: DR. RICARDO CASTRO
    ALUNO: SERGIO LUIZ MORAES VERDAN – DRE: 104118872
    DATA: 06 DE OUTUBRO DE 2008.

    Resenha do Filme “Nós que aqui estamos por vós esperamos” – Marcelo Masagão.

    No filme “Nós que aqui estamos por vós esperamos”, o autor Marcelo Masagão retrata as memórias do turbulento século XX. Realiza uma combinação de seqüências de imagens fragmentadas de arquivos, de documentários e do cinema de várias partes do mundo para contextualizá-lo. Imagens conhecidas ou não, de pessoas anônimas e famosas, que de certa forma contribuíram e participaram dos acontecimentos deste século.
    Masagão, com a sensibilidade de sua arte, procura nos mostrar como grandes descobertas e transformações da modernidade alcançadas pela humanidade, refletiram na vida dessa mesma humanidade, permitindo-nos reviver e sentir as emoções e os dramas através de sua obra.
    Os momentos mais marcantes são citados, juntamente com pessoas importantes que gravaram seus nomes na história e de pessoas comuns que no seu modo de vida fizeram parte dessa história. Fatos como guerras, revoluções, regimes totalitários, movimentos sociais e crises econômicas estão presentes no documentário, retratando e valorizando a vida das pessoas que presenciaram todos esses fatos, vida que foi colocada em segundo plano pela realidade cruel do século XX.
    O autor nos mostra a introdução da tecnologia sobre a vida das pessoas, como a televisão, o telefone e até mesmo a forma triste da bomba nuclear. A luta por melhores condições de vida, por liberdade e por igualdade social. A busca por novas invenções e traumas pessoais ocasionados pelos acontecimentos mundiais.
    A junção de imagens nos faz perceber o quanto contraditório foi este século. Enquanto soldados comemoravam vitórias em batalhas, muitos choravam a morte de parentes; quando uns julgavam-se melhores e superiores, muitos eram dizimados e oprimidos; quando o aumento da produção de empresas era obtido, muitos tiveram que trabalhar dobrado sem compensações financeiras; enquanto alguns buscavam a paz em Deus, outros usaram Deus como a causa da guerra; enquanto uns desprendiam valores em bens de consumo, muitos sofreram com a pobreza e a fome.
    O filme em preto em branco, sem áudio, com bela trilha sonora, representa a repressão do mundo sobre o colorido e o som da vida, mostrando o quanto “sombrio” foi o século XX, marcado principalmente por guerras, revoltas e conflitos, surgidas principalmente por interesses econômicos e políticos.
    Do cemitério o autor ressuscita as imagens da vida das pessoas, fazendo uma associação de datas com momentos históricos, reverenciando-lhes a importância e glórias devidas, ao qual o mundo lhes privou em vida.
    O documentário nos permite refletir sobre o século XX para entendermos as causas dos acontecimentos dos fatos e suas conseqüências, de forma que possamos valorizar mais a vida, para que os mesmos erros cometidos anteriormente não sejam repetidos e que nós possamos fazer o século XXI “luminoso”, mostrando às gerações futuras quanto aprendemos com os erros do passado.
    Que a ganância individual não se sobreponha sobre a multidão. Que as riquezas existentes sejam distribuídas para todos. Que todos tenham alimentos e salários dignos. Assim, o nosso século poderá ser retratado em um filme colorido e com sons, sendo feito a partir da vida e não da morte, pois um dia, seremos nós que estaremos esperando “por vós”.

  30. thiagodemattos said,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro
    Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
    Departamento de História
    Disciplina: História Contemporânea
    Prof: Ricardo Castro
    Aluno: Thiago de Mattos Vieira
    DRE: 105082113
    Data: 06/10/2008

    Resenha do filme:
    “Nós que aqui estamos por vós esperamos”

    O filme de Marcelo Masagão, uma breve retrospectiva em imagens de arquivo de todo o século XX, tem como grande trunfo a justaposição de figuras anônimas e celebridades de diversos âmbitos e locais do globo, confrontando ideais, simbologias, universos e paradigmas em diversos seguimentos sociais e em diversas culturas. A trilha sonora de Win Menstes é minuciosamente orquestrada com as imagens sobrepostas pelo autor do filme de forma a atingir os sentimentos pretendidos nos momentos chave do filme.
    Uma imagem bem marcante no filme é a seqüência que retrata a chegada da luz elétrica na casa de Gargarin na Rússia e, logo em seguida, a cena de Yuri Gargarin no espaço 40 anos depois. Um excelente retrato, para além do ritmo acelerado das invenções tecnológicas, da dramática distinção entre gerações próximas. Também pode ser considerado como ponto de reflexão sobre esta cena a questão do acesso e da real capacidade de absorção pelas comunidades de tamanhos avanços em um ritmo acelerado, criando uma sociedade de consumo extremamente voraz e desigual. Ainda no tocante das invenções, Masagão dá destaque aos criadores que não tiveram criações de sucesso, como a passagem do Alfaite da Torre Eiffel. Valorizar a memória de tais inventores sugere a reflexão de alguns custos que a humanidade possui para a invenção de novas tecnologias ou para a realização de sonhos. No caso, o custo do alfaiate foi alto demais, assim como o ônibus espacial Challenger.
    Os movimentos sociais também recebem grande destaque na obra de Masagão sendo o mais detalhado deles o movimento feminista. O filme retrata imagens de mulheres que firmaram posição de contestar valores da sociedade desde a década de 20 até o movimento feminista no fim da década de 60. Outro elemento que recebe bastante destaque é a guerra, com imagens das guerras mundiais e da guerra do golfo. Marcas do discurso de Masagão neste ponto são a crueldade, a irracionalidade e a forma endêmica com a qual a guerra se alastra, deixando um rastro de destruição no local atingido pelo fenômeno.
    A modernidade é sem dúvida nenhuma o ponto central de toda a trama de Masagão, onde o autor apresenta uma narrativa bem condizente com a célebre frase de Marx que intitula o blog da turma de que “tudo que é sólido desmancha no ar”. Nicolau Sevcenko atesta este turbilhão da modernidade apresentado por Masagão da seguinte forma: “A irrupção nele da cultura moderna indicava precisamente isso: a ruptura de todos os elos com o passado; o imperativo da supremacia tecnológica; a penetração ampla e profunda em todas as dimensões, macro e micro, da matéria, da vida e do universo; o anseio da aceleração, da intensidade, e da conectividade; a abolição dos limites do tempo e do espaço. O que mais marca este momento portanto, é justamente essa multiplicação de energias, a pluralidade das sensações e das experiências, o esfacelamento da consciência e a interação com os mais diversificados contextos.” (SEVCENKO, 1999, p. w.).

    Referências Bibliográficas:
    – SEVCENKO, Nicolau. Nós que aqui estamos por vós esperamos. São Paulo: USP, 1999. Disponível em: http://www2.uol.com.br/filmememoria/txt-nicolau.htm

  31. drikaadriana said,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
    Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – IFCS

    História Contemporânea FCH352 Prof.: Ricardo Castro

    Nome: Adriana Soares Ralejo DRE: 106032307
    5º período – Noite

    Entrega: 06 de outubro de 2008

    Resenha do filme Nós que aqui estamos por vós esperamos de Marcelo Masagão

    O filme brasileiro produzido em 1998 – Nós que aqui estamos por vós esperamos – procura fazer uma retrospectiva de fatos importantes e marcantes no século XX. Marcelo Masagão não é somente seu diretor, mas responsável também pela produção, pesquisa e edição do filme, mostrando sua mensagem através de sobreposição de imagens, um recurso muito utilizado no século XX, sem precisar utilizar um elenco, somente deixando que as imagens falem por si acompanhadas de uma música muito bem encaixada ao fundo.
    A pictografia utilizada parte de diversas fontes como arquivos, obras clássicas, imagens famosas, documentários, fazendo uso desse modo tanto de personagens famosos como de pessoas comuns do cotidiano, mas que também fizeram parte da construção da história.
    O documentário consegue traduzir a história do século XX retratando a situação da sociedade mundial entre os efeitos das guerras, perseguições, bombas, bipolarização, corrida espacial proporcionada pela modernidade, cinema, música, etc. que fazem parte dessa turbulenta história.
    O desenvolvimento da película não se dá no tempo cronológico, chegando algumas vezes a confundir o telespectador, mas é organizado por temas que fizeram parte do século XX.
    A modernidade é um desses temas que definiu os rumos do século. A rapidez de informação com o telefone, melhoria no sistema de transporte (passagem da carroça para o carro), descobertas tecnológicas e os benefícios e a maior rapidez na produção de produtos (um carro que era produzido em 14 horas passa a ficar prontos em aproximadamente em 1 hora e meia) são vantagens que a humanidade passou a adquirir. A mesma modernidade, que hora beneficia a sociedade com suas facilidades, mostra seu lado ruim com sua capacidade de destruição nas guerras, desemprego em massa nas indústrias com a automação (substituição do homem pela máquina), e quando há trabalho, este está em péssimas condições e mal remunerado como mostra a cena do empregado que trabalha montando carros da Ford, mas que nunca na vida poderá obter um. Assim, existe uma verdadeira contradição entre o lado da construção e da destruição. Mesmo assim a sociedade acaba ganhando um novo paradigma de idealismo de vida com a presença dos produtos da modernidade como eletrodomésticos, carro, casa, etc.
    As guerras são um dos elementos que mais se destacam no filme e causam mudanças na sociedade que procura se adaptar em meio disso. São retratadas pessoas se vêem obrigadas a lutar em defesa de algo que não entendem ou concordam e vão para as trincheiras esperar a morte (cena do padre abençoando os soldados). Esses homens que na maioria dos casos são tratados como dados estatísticos são mostrados no filme como indivíduos que possuem cada um o seu valor, uma vida diferente da outra.
    A individualidade é algo bem marcante no longa. Exemplo disso é o homem que fez uma roupa especial para ficar perto de Deus. A ambição faz com que eles construam sua história. O alfaiate francês vestido de pássaro que salta da Torre Eilffel tentando voar e logo após a explosão do ônibus espacial americano marcam a vontade de cada vez mais ir mais longe, conquistar o inconquistável. São os sonhos e os ideais humanos que se misturam. Enquanto alguns buscam sobreviver neste mundo, outros querem ir além.
    Enquanto os homens vão para os campos de batalha, as mulheres, por sua vez, são obrigadas a arrumar um jeito de sobreviver, indo trabalhar, como uma das alternativas, nas indústrias bélicas ou como telefonistas. Isso vai repercutir uma série de movimentos em defesa de uma nova posição da sociedade, não aceitando mais voltar para as cozinhas depois que as guerras terminam, seus maridos voltam e não precisam mais trabalhar. Prova disso é a revolução feminina em 1960, marcando o auge, com a queima dos sutiãs e invenção da mini-saia.
    O título do filme instiga uma grande curiosidade sobre quem se está falando. As primeiras cenas confundem ainda mais com a imagem de um cemitério. O sentido disso só é encontrado no final do filme, mostrando o motivo de seu título, causando grande espanto. Nós que aqui estamos por vós esperamos é uma inscrição presente no portal de alguns cemitérios e representa uma espécie de lição de moral para aqueles que verem o filme. O longa metragem chama a atenção para o movimento de banalização da vida, fazendo perceber o trajeto dela ao longo desses tempos, construído por todos nós: pessoas comuns. As pessoas que descansavam naquele cemitério são testemunhas da história da vida desse século e representam a igualdade de todos, já que no fim irão parar no mesmo lugar, seja pobre, rico, famoso ou desconhecido. Todos fazem parte da História. Pode-se ver desse modo que, arte e guerra, sonho e realidade, vida e morte representam um aparente antagonismo que se funde para retratar o século XX, no contexto que se inicia com a Primeira Guerra Mundial.

    “O homem constrói as ferramentas, as ferramentas reconstroem os homens”

  32. jmarcoscb said,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
    CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
    Departamento de História
    Matéria: História Contemporânea
    Prof˚. Ricardo Castro
    Aluno: João Marcos da Cunha Barbosa DRE: 104080003

    “Nós que Aquí Estamos, por Vós Esperamos”. Direção e roteiro de Marcelo Masagão. Brasil: Agência Observatorum, 1998. 73min.

    Deleuze identifica em sua obra dois momentos distintos do cinema: o da imagem-ação, na infância da mídia, quando o movimento era o espetáculo; e, da imagem-narrativa, quando a mídia se firmou como independente, como algo além da simples fotografia animada.
    Masagão em seu filme mostra uma zona cinza entre ambas as definições: Nós que Aquí Estamos tem como base uma coletânea de imagens-ação que acaba por construir uma narrativa fílmica consistente. A imagem que melhor exprime o filme é o da reciclagem do refugo de uma sala de edição de notícias – fragmentos antigos, originais e conhecidos de película acabam por se ordenar numa visão única do século XX e, por extensão, da modernidade.
    O filme é conduzido em sua narrativa por uma inspirada trilha sonora, capaz de sublinhar o significado das imagens e, portanto, constituindo um elemento narrativo por sí só. A leveza da trilha instrumental, etérea e tocante, complementa de forma exemplar as tomadas de arquivo – muitas com qualidade sofrível, decorrente da idade.
    A idéia principal de Masagão é associar a personagens de um cemitério biografias específicas que, em seu conjunto, dão o tom do início do século XX – uma realidade de industrialização, arte, ciência. Uma realidade composta de beleza e feiúra, de conquistas e vergonhas, de banalidades e espetáculos. Uma dicotomia apresentada pelo diálogo dos trechos que comparam Garrincha/Fred Astaire e Reisfeld/Challenger – possivelmente as cenas mais famosas do documentário.
    Masagão faz o passado dialogar com o presente – tudo mudou, nada mudou. Esse Mutatis mutandis da humanidade, apresentado como um poema audiovisual, é a grande conquista do filme em suas montagens entre material de arquivo, dos primórdios do cinema, e do noticiário mais recente.
    Masagão, dessa forma, liga o passado e o presente em um grande contexto humano, pautado pela limitude da vida, assombrado pela certeza da morte. O cemitério, locis principal da narrativa e palco dos personagens, acaba por colocar a mortalidade humana como condição esquecida nos desvãos da História. Nesse sentido, Masagão resgata fragmentos de histórias individuais – anônimas ou célebres – que, em seu
    conjunto, traçam o zeitgeist do século XX e, por extensão, da condição humana, esta, atemporal.
    Assim, despido de uma narrativa linear, composto por fractais de imagens antípodas, Nós que Aqui Estamos apresenta o passado como uma visão personalista do espírito de uma época, prenhe de recorrências e ineditismos, onde apenas uma certeza encontra-se inalterada: o memento mori barroco.

  33. celiadaniele said,

    UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
    IFCS – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
    História Contemporânea
    Prof: Ricardo Castro
    Aluna: Celia Daniele Moreira de Souza – DRE: 106021754
    Data: 06/10/2008

    Resenha do filme: “Nós que aqui estamos por vós esperamos”

    O filme compila imagens do séc. XX para representar todas as suas nuances, um século que marcou por sua tecnologia e por sua violência: a “era dos extremos”, na qual tanta beleza foi criada (avião, fotografia, filmagem, arte moderna) e ao mesmo tempo tanta destruição foi promovida (1ª e 2ª guerras mundiais, bomba atômica, Guerra do Vietnã, etc).
    Ao longo das imagens, o produtor Marcelo Masagão envolve passagens do século XX para montar histórias de pessoas que se relacionariam com os fatos mais relevantes deste século. Não há diálogos, somente uma música de fundo guia a emoção que ele quer impregnar nas imagens, seja no sentido do progresso, da revolução dos costumes, seja para demonstrar a perversidade da guerra, a desolação após dela.
    As imagens compiladas assim representam personagens, e a vivência de cada um deles se relaciona diretamente a um fato histórico. Obviamente a vida ali contada não é a real, é uma liberdade poética do autor para aproximar dos telespectadores os acontecimentos; ao se perceber a humanidade dessas pessoas, ao traze-las para uma similaridade da vida quem a eles assiste, faz com que a pura montagem das imagens passe a adquirir uma nostalgia, faz com que quem as encare perceba o quão perto está de todos estes grandes acontecimentos.
    Aliado a isso, o filme consegue fundamentar sua crítica a diversos aspectos vivenciados durante o século passado. Ele critica a banalização da morte, a futilidade da vida e mais ainda o esquecimento do passado. As pessoas passam a viver o presente e o futuro, e esquecem o que o passado ensinaria a elas. Por isso, no início do filme aparece a mensagem “O Historiador é rei”, pois ao remontar todo o passado, nota-se a importante do trabalho do historiador.
    A necessidade de individualização das pessoas é um dado que surge no filme, ao tornar uma pessoa que aparece nas imagens, um indivíduo que tem uma memória pessoal, que tem uma micro-história dentro da macro-história. Durante estas representações individuais, o filme demonstra que, mesmo após tanto desenvolvimento tecnológico e científico, o homem desaprendeu a lidar com outros homens, ou seja, o homem se isolou em si mesmo.
    O título do filme, ao mesmo tempo em que evidencia o pertencimento da humanidade ao passado, é irônica por sua origem: ela é o nome de um cemitério. O que se pode concluir é que mesmo havendo tantos indivíduos no topo do mundo e outros na miséria, mesmo havendo vencedores e vencidos, “certos” e “errados”, todos iram morrer, todos iram se unir no outro lado. Então pode-se perceber que apesar de tantas diferenças, todos os homens continuam iguais, independente de sua posição ou ação no mundo.


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